O sonho de seguir o irmão Thiago em uma carreira de futebol nos Estados Unidos colocou Rafael Gaglianone na rota para ser o próximo brasileiro na NFL. O paulista se mudou para a América do Norte e mal conhecia o esporte da bola oval, mas a chance de receber uma bolsa de estudos universitária e de ser um esportista profissional o fizeram mudar de ideia.
— Quando eu morava no Brasil, não conhecia muita coisa sobre futebol americano, nunca tinha assistido a um jogo completo e não entendia as regras. Só fui aprender, mesmo, quando fui jogar na escola — conta o kicker, que está em seu terceiro ano de elegibilidade na Universidade de Wisconsin, no norte dos Estados Unidos.
Um dos mentores de Gaglianone na trilha no futebol americano foi Ricardo Silveira, da empresa 2SV Sports, responsável pelo intercâmbio do atleta. O empresário conta que convenceu Rafael a dar uma chance ao futebol americano.
— O Rafa estava mais abaixo na parte do "soccer" do que a gente estava procurando, mas acabei permitindo que ele treinasse. Ele se dedicou muito, acabou indo fazer high school em Baylor, no Tennessee. E lá ele entrou no programa de futebol americano e começou a se destacar. Chutava forte. Começou a pegar a técnica e a se destacar. No último ano, recebeu proposta de Wisconsin com bolsa completa. Hoje, é uma das referências entre kickers no esporte universitário e com grande chance de ir para a NFL — exalta.
Rafael Gaglianone ainda tem mais um ano de futebol americano universitário. Desta forma, estará disponível para o draft da NFL em 2019. O sonho é seguir os passos de Cairo Santos, o primeiro jogador nascido no Brasil a atuar em jogos de temporada regular na liga profissional — junto a Maikon Bonani, que passou as pré-temporadas de 2013 e 2014 no Tennessee Titans, eles são referência em uma leva brasileira de jogadores da posição.
Os planos são grandes: além do objetivo de jogar na NFL, Rafael quer criar uma espécie de escolinha de kickers no Brasil com o objetivo de lançar novos atletas para o mercado americano.
Você conhecia alguma coisa de futebol americano antes de ir para os Estados Unidos?
Quando eu morava no Brasil, eu não conhecia muita coisa sobre futebol americano, nunca tinha assistido a um jogo completo, não entendia as regras. Eu só tinha visto o esporte algumas vezes pela TV, em filmes, essas coisas. Quando eu cheguei aos Estados Unidos, morando no estado de Tennessee, eu já vi um jogo completo logo no meu primeiro fim de semana e passei a ter mais contato com o esporte. Mas só fui aprender, mesmo, quando fui jogar na escola no final daquele ano. Inicialmente, quando o pessoal da 2SV me trouxe para os Estados Unidos, eu comecei jogando o "soccer". Depois, com o tempo, eu fui me sentindo bem no futebol americano e acabei mudando de vez.
Como é controlar o psicológico para entrar só nas situações de chute?
A questão de controlar seu psicológico tem a ver com você focar bastante no treinamento. As pessoas que sentem a pressão do momento ou de um estádio lotado são as pessoas que não estão preparadas e não treinaram o suficiente para aproveitarem as oportunidades. Por isso, eu foco muito nos treinamentos. Sempre tive calma, nunca tive problema com pressão. É questão de confiança também. Eu sempre tive confiança no meu trabalho, nos meus companheiros. Se você treinar todos os dias com intensidade, fazendo várias repetições, com empenho total, sua confiança vai aumentando também. É assim que eu controlo meu psicológico.
Como foi conviver com o período da lesão nas costas na temporada passada?
Esse tempo que fiquei lesionado foi um período muito difícil na minha vida. O time vinha de uma sequência excelente, eu também vinha fazendo uma temporada muito boa, estava me sentindo bem, chutando bem. Ficar fora do restante da temporada foi bem difícil. Mas estando em uma faculdade de elite, com treinadores e médicos de elite, com pessoas trabalhando comigo três vezes ao dia, eu tinha certeza de que voltaria com 100% das minhas condições ou até mais forte do que eu estava antes. Isso me deu mais motivação para continuar batalhando. Hoje em dia, estou mais do que 100%, chutando o meu melhor. Estou muito motivado.
Você vê o Maikon Bonani e o Cairo Santos como exemplos para chegar à NFL?
Sim, com certeza eu vejo o Maikon Bonani e o Cairo Santos como exemplos de que dá para chegar à NFL. São dois brasileiros que estavam na mesma situação que estou hoje, jogando em time da divisão principal do college. Então, eu acho que tenho feito o suficiente para continuar sonhando com isso. Essas últimas temporadas têm sido muito boas para mim. Eu tento usá-los como espelhos e motivação para continuar batalhando pelos meus sonhos.
Qual o curso que você faz na faculdade? O ambiente estudantil é levado a sério?
Estou fazendo curso de comunicação, com foco em marketing. A Universidade de Wisconsin é uma das melhores faculdades dos Estados Unidos e do mundo. O estudo é levado muito a sério. Temos vários instrutores, aulas particulares, tudo para o aluno se dar bem nos estudos e também no esporte. Existe uma preocupação com o futuro de cada um. O pessoal da 2SV Sports, antes mesmo de me trazer aos Estados Unidos, também sempre deixou muito claro isso para mim: "É preciso se empenhar nos estudos, e não apenas no esporte". Então, eu já vim com essa mentalidade para cá.
Tem algum time que você sonhe em atuar na NFL?
Procuro não torcer para nenhum time da NFL neste momento. Não quero pensar em um time ou outro. O time que me escolher, me draftar ou me selecionar como free agent vai ser o meu time dos sonhos e vou vestir a camisa com o maior orgulho.
A sua ideia é cumprir os quatro anos de elegibilidade no college?
Sim, exatamente. A minha ideia agora é cumprir os quatros anos de elegibilidade no college, me graduar, pegar o meu "degree" aqui. Pelo menos, ter essa base e essa perna já no futuro. Se der certo no futebol americano, eu gostaria muito de continuar minha carreira, é o meu sonho. Mas vou focar primeiramente em finalizar a faculdade e meus estudos, batalhando nos treinos e jogos da faculdade. Como kicker, é muito difícil sair um ano antes e tentar já entrar no draft. A maioria dos kickers é selecionada como free agent. Então, não vale muito a pena você se arriscar e sair da faculdade antes. Até porque já estou em uma das melhores universidades no que diz respeito ao futebol americano nos Estados Unidos. Estamos entre as cinco melhores do ranking. Portanto, sair de uma faculdade dessa sem ter a certeza de que vou entrar em um time não vale a pena. Meu plano, então, é cumprir meus quatro anos de elegibilidade e finalizar a faculdade.
Você acompanha o desenvolvimento do futebol americano no Brasil?
Sim, eu tenho acompanhado um pouquinho o desenvolvimento do futebol americano no Brasil. Tenho amigos que jogam, e eles também me falam como o esporte tem crescido. As emissoras de TV têm mostrado mais também, tem muita gente assistindo hoje em dia. Mas, estando longe, é difícil acompanhar muito. Espero ter um papel nisso e, em alguns anos, poder ajudar esse esporte a crescer ainda mais no Brasil.