É inadmissível que a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) mantenha um campeonato como a Terceirona na linha de frente das competições estaduais. O melancólico torneio teve sua edição mais atrapalhada, controversa e triste em 2017. Uma final às 11h de quinta-feira em um Centro de Treinamento, envolvendo um integrante da dupla Gre-Nal, é o resumo desta bizarrice. Vamos lembrar aqui os "principais" momentos do campeonato.
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Já no congresso técnico da competição era possível perceber que daria problema. A inclusão de Inter e Grêmio, mesmo que não pudessem subir de divisão, foi aceita pelos clubes. O argumento de convencimento era que a Dupla levaria mais público aos estádios do Interior. Obviamente, não vingou. A média de torcedores foi baixa, como sempre. Vale lembrar: só o presidente do Gaúcho, Gilmar Rosso, foi contra a participação dos dois. O destino cruel, vejam só, fez o Gaúcho pegar justamente o Inter nas quartas de final. Acabou eliminado.
Voltando à reunião pré-campeonato, o encontro determinou também um formulismo desnecessário. Para colocar as equipes a jogar por mais tempo, foi criada uma primeira fase arrastada, em que oito times se enfrentavam em dois turnos e seis avançaram para mais uma etapa de grupos. Resultado: quando terminou essa fase, dois clubes desistiram do campeonato, o Riograndense-SM e o Elite, de Santo Ângelo. O dinheiro havia terminado. Ambos foram punidos, afastados das competições profissionais por dois anos.
Mais um ponto. Seguindo a tendência já apresentada no ano anterior, o campeonato foi destinado a jogadores com menos de 23 anos. Só quatro precisavam estar inscritos na FGF como profissionais. Isso significa: a Terceirona, começo da caminhada rumo ao Gauchão (e aos benefícios que ele dá), é um torneio amador.
Fora de campo, outro capítulo estranho. Um malabarismo jurídico do TJD conseguiu dar punições diferentes para o mesmo erro. O Bagé usou um jogador sem contrato em dois jogos – um pela fase de grupos, outro pela semifinal. Pela infração, perdeu seis pontos da semifinal. Mas na fase de grupos, só foi multado, sem punição esportiva. A perda de pontos na fase de grupos teria alterado todo o ordenamento das semifinais e faria o Bagé enfrentar o Grêmio, não o Três Passos. A decisão do tribunal prejudicou o Rio Grande, que teve como adversário justamente o Grêmio.
Beneficiado pela decisão (para a FGF, o que importa é terminar o campeonato que começou, seja lá como for), o Bagé chegou à final do campeonato empolgado em jogar contra o Inter e fazer uma boa renda na decisão. O regulamento prevê que mesmo que tenha melhor campanha, a Dupla decide no Interior. Pois o time da Campanha levou 4 a 0 na partida de ida. Alguém acreditava na Pedra Moura lotada no domingo?
Ainda assim, o público que – exageremos – foi razoável, ainda foi atacado por uma atuação desastrada da Brigada Militar, que atirou uma bomba de efeito moral em meio aos torcedores. Por sorte, muita sorte, ninguém se feriu no 5 a 1 aplicado pelo Inter.
Resumindo, então: um torneio amador classificou para um profissional de segunda divisão o provável vice-campeão e o quarto colocado. O campeão e o terceiro foram impedidos de ascender porque já têm vaga na elite. O campeonato ficou manchado por uma decisão bizarra do TJD. E, desta vez, é possível dizer: a Terceirona acabou com times do Interior. Riograndense-SM e Elite que o digam.