Um falso técnico, que se identifica como Edmar, tem utilizado o nome de clubes catarinenses para lesar jogadores desempregados. Na semana passada, dois atletas do Rio de Janeiro foram procurados pelo falso empresário com uma proposta de emprego no Camboriú, clube que disputa a Série B do Campeonato Catarinense.
O suposto técnico cobrava taxa de transferência no valor de R$ 900 dos jogadores. O valor seria necessário para a inscrição dos atletas, com a ressalva de que o prazo para inscrição estava se encerrando – terminou no último dia 18. Os atletas, então, depositavam o dinheiro com a promessa de que receberiam as passagens aéreas e estariam aptos para jogar quando chegassem.
Entretanto, não foi isso que aconteceu. É o que relata um dos atletas lesados, o volante Josemar, de 26 anos, que teve como última passagem o Valeriodoce, de Minas Gerais.
– Conheci ele através do Felipe Linhares que estava interessado na minha contratação, chegando no final da história, onde ele falou do projeto e da proposta, tive até uma leve desconfiança, mas fui em frente e acreditei. Fiz o deposito na sua conta, depois disso ele ficou enrolando na questão da passagem, quando fui mais a fundo descobri que não tinha vinculo nenhum com o clube e que era um golpista – relata.
O meio-campista Felipe Linhares, de 25 anos, também caiu no golpe com a promessa de um contrato até o final do ano com o clube da cidade de Camboriú e um salário de R$ 2,5 mil.
– Ele entrou em contato comigo, assistiu o DVD, gostou e começamos a conversar, mas ele falou que o clube não estava arcando com a transferência, perguntou se eu poderia arcar, e falou que o clube pagaria aos poucos.
Segundo Renato Cruz, presidente do Camboriú, nenhum Edmar trabalha no clube e ninguém foi autorizado a usar o nome da agremiação para negociar jogadores.
– Achei lamentável a situação de mexer com o sonho dos jovens. Me surpreendeu muito até por ter sido um golpe mal feito. Depois que os jogadores fizeram o depósito, entraram em contato com um atleta do clube, que disse a eles que não havia nenhum Edmar no clube, e então eles entenderam que tinham sofrido um golpe – disse.
Como é feito o golpe
O golpista se faz passar por treinador de futebol e está em captação de jogadores para o clube que supostamente trabalha. Com perfil falso, ele publica anúncios em redes sociais à caça de atletas desempregados. É simples: diz que há oportunidade de disputar a segunda divisão do Campeonato Catarinense e pede para deixar o número de telefone nos comentários. Ou procura por atletas desempregados – como ocorreu com Felipe Linhares, depois que o suposto técnico esteve em contato com um tipo. A partir do contato por meio do aplicativo Whatsapp, pede material como imagens e currículo.
Com o andamento da conversa, vem o pedido do depósito do que seria o valor da inscrição, alegando que o prazo está próximo do fim na Série B do Catarinense – encerrou no dia 18. O valor de R$ 900 ainda é bem inferior ao custo do registro para vínculo com clube. No caso dos atletas do Rio de Janeiro, um clube da Segundona de Santa Catarina teria de arcar com cerca de R$ 3,5 mil por atleta pela inclusão no Boletim Informativo Diário (BID). O homem que se apresenta como treinador se contenta com menos de um terço.
Depois do dinheiro depositado, passa a ser vago e evasivo. O suposto técnico informa que estão por ser enviadas as passagens por e-mail, sem precisar dia e hora. É o último contato antes de deixar de responder as mensagens e sumir, em busca de outras vítimas.
Depois de se passar como treinador do Camboriú, Edmar passou a usar o nome do Guarani de Palhoça, dizendo que estava no comando técnico, como relata o atual treinador do time, Sérgio Ramirez.
– Se os jogadores estivessem me contatado por telefone, veriam que não era eu quem estava falando, pois estou há 40 anos no Brasil e ainda mantenho um sotaque espanhol. Mas como era tudo escrito, ele acabou enganando os jovens. Eu tentei contatá-lo pelo telefone, mas me bloqueou – comenta o uruguaio.
Tudo isso começou há mais de um mês em Mafra, no norte de Santa Catarina. O Técnico Edmar Heiler, do Operário de Mafra, clube que também disputa a segundona catarinense, teve seu nome usado pelo falso empresário.
– Na verdade ele usou a minha foto no Whatsapp dele, e ficava dizendo que era empresário e seduzia os jogadores e cobrava uma taxa de transferência, um absurdo – declarou Edmar.
Presidente da Associação dos Clubes de Santa Catarina, Luiz Henrique Ribeiro, informou que ações serão tomadas contra os golpes do falso treinador. O dirigente alerta que clubes e jogadores devem ter cuidado redobrado.
– Nós repudiamos e chamamos atenção aos gestores de futebol por fatos lastimáveis como esse, que infelizmente não acontecem só no futebol. Vamos acompanhar as investigações para apurar os autores do estelionato.
Todos os envolvidos fizeram boletim de ocorrência em suas localidades. O falso técnico foi procurado pela reportagem, mas não respondeu nem por mensagens de texto e nem por ligação telefônica.