Já pensou andar pra lá e pra cá com um cheque de 222 milhões de euros? O Dia D da maior transferência da história do futebol mundial começou assim. O advogado de Neymar colocou o valioso papel na mala e foi a Madri para depositá-lo na sede da Liga Espanhola. Diante da recusa da entidade em receber o valor, tomou o rumo de Barcelona e bancou a saída do craque. Era oficial. Horas depois, o brasileiro de 25 anos foi anunciado como novo reforço do Paris Saint-Germain. Nesta sexta-feira, às 8h de Brasília, será apresentado no Parc des Princes e já participa do primeiro treino na nova casa.
Especialista em direito esportivo, o advogado Juan de Dios Crespo parece ter se aconselhado com Daniel Alves ao escolher o figurino para o dia em que entregaria o polpudo cheque. Vestindo terno azul, gravata borboleta e chapéu, e carregando a maleta com a pequena fortuna para concretizar a transação, o representante de Neymar começou sua jornada recebendo um sonoro "não" da Liga Espanhola. Se acompanhou um pouco do noticiário recente, já esperava pela negativa. O presidente da entidade, Javier Tebas, já dissera que não aceitaria a grana do PSG.
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– Não vamos aceitar o dinheiro de um clube como o PSG que, sem pertencer à nossa Liga, quer adquirir um direito da nossa organização e, acima de tudo, quando esse clube está a infringir leis e normas. Seria um contrassenso aceitar esse pagamento. Se o PSG pagar a cláusula, não a aceitaremos – afirmou, em entrevista ao jornal Ás.
Tebas se referia ao Fair-Play Financeiro, conjunto de normas de controle da Uefa para ajudar a equilibrar as contas dos clubes. Equipes como o PSG, que tiveram seus cofres turbinados por "mecenas" nas últimas temporadas, eram o principal alvo. O pagamento de 222 milhões de euros infringiria, de acordo com a avaliação da Liga, as leis da Uefa.
Dios Crespo girou os calcanhares, ajeitou a gravata borboleta e rumou a Barcelona. Desembarcou no Camp Nou para tirar do Barça o craque que os catalães esperavam ser o sucessor de Lionel Messi. Entrou no escritório, deixou o cheque e, pouco depois, já havia uma curta e seca nota oficial no site do Barça. O texto comunicava a liberação de Neymar e acrescentava, no fim, que o Barcelona iria "passar à Uefa os detalhes da operação para que possa determinar as responsabilidades disciplinares que podem surgir deste caso".
O papel do engravatado portador do cheque estava cumprido, e Neymar foi anunciado pelo PSG. Se o adeus do Barça ao brasileiro foi protocolar – para não dizer ameaçador – o do brasileiro foi carinhoso. Em publicação em seu perfil no Instagram, citou Messi como "o maior atleta que já viu na vida" e disse estar "seguro" de que não verá outro melhor. Destacou que formou "um ataque com Messi e Suárez que ficou para a história". Chamou de "inesquecíveis" os momentos vividos na Catalunha.
Como motivo para sua saída, recorreu ao clichê dos "novos desafios" e disse "sentir no coração" que era hora de ir. Afirmou, na mensagem, que contrariou o pai ao decidir pela transferência. Chamou para si, como faz muitas vezes em campo, a responsabilidade pela decisão, talvez como forma de proteger o pai bombardeado pela imprensa espanhola que acusa a família de traição.
– É uma decisão difícil, mas tomada com a maturidade de meus 25 anos – garantiu.
Certo é que essa maturidade será testada na próxima vez que Neymar pisar no Camp Nou. Os catalães não engoliram a novela que ganhou contornos tão peculiares como o "cheque viajante" desta quinta.
Enquanto isso, Neymar aproveita o holofote que parece ter buscado ao deixar a sombra de Messi. Será recebido com pompa e circunstância em um Parc des Princes repleto neste sábado, quando o PSG estreia contra o Amiens no Campeonato Francês (a competição começa nesta sexta, com Monaco x Toulouse). O rebuliço na Cidade Luz já está formado: logo após o anúncio da contratação, já se formavam filas do lado de fora da loja do clube na Avenida Champs-Elysées. Todos em busca de uma camisa com o nome do novo ídolo.
* ZH Esportes