Para quem tem dificuldade em entender o porquê de deixar as praias de Fortaleza para encarar o frio gaúcho, Pedro Iarley Lima Dantas, 43 anos, tem a resposta na ponta da língua:
– Foi difícil, mas a gente tem que se sentir vivo, fazer o que gosta. Defini que, aqui, seria o início do futuro, a sequência da minha nova carreira.
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O ídolo colorado resolveu pendurar as chuteiras há pouco mais de dois anos. Foi quando precisou definir onde começaria a nova vida, fora dos gramados. Natural do Ceará, assim como a mulher, Karizia, pensou em se estabelecer no Nordeste, mais próximo dos familiares. Porém, a relação com o Rio Grande do Sul era muito forte. O período no Beira-Rio, entre 2005 e 2008, foi de alegrias, títulos e amizades. Quando recebeu o convite para trabalhar na base do clube, não demorou para aceitar.
– Por mais que tenha rodado em outros Estados, foi muito marcante a minha história com o Inter. Quando deixamos Porto Alegre, ficou na mente da minha mulher a intenção de retornar, principalmente pelo povo gaúcho, pela a educação e a qualidade de vida que se tem aqui, além da minha ligação com o clube – comenta o ex-atacante.
No começo de 2016, Iarley assumiu como coordenador técnico das categorias de base. Entre as tarefas no CT de Alvorada, muita conversa com os treinadores e discussões sobre metodologias de treinamento. Mas, neste ano, voltou para o campo. Passou a trabalhar no Projeto Aprimorar, que aperfeiçoa fundamentos dos jovens atletas. Também tem atuado como auxiliar em treinos para atletas não relacionados e em alguns jogos do sub-20 e do Inter B. O cheiro da grama fez os olhos brilharem e a projetar um novo futuro. Ainda neste mês, Iarley começa as aulas no Sindicato dos Treinadores do Rio Grande do Sul. Em um futuro próximo, também pretende fazer os cursos oferecidos pela CBF.
– Senti mais prazer em elaborar o treino, trabalhar com o jogador. Também tenho o perfil de direção, mas a minha vontade é de ser técnico.
Iarley mora com a mulher e os os filhos – João Pedro, 12 anos, e João Victor, oito – no bairro Rio Branco. O mais velho nasceu no México, mas com seis meses desembarcou com o pai em Porto Alegre. O mais novo é de Goiânia. Os meninos estudam em uma escola em frente ao Beira-Rio. Sempre que pode, o ex-jogador busca e leva os filha no colégio e os acompanha nos treinos – ambos jogam nas escolinhas do Inter. João Victor integra a equipe sub-8. Ao falar do caçula, o pai se derrete:
– É canhoto, camisa 10. Esse vai incomodar (risos). Como ex-jogador, gostaria que eles fossem atletas, mas incentivo dentro da normalidade, deixo eles à vontade. Só de vê-los treinar já é uma satisfação. Se vestirem a camisa do profissional, então, seria um sonho realizado.
Apesar do frio, Iarley garante que os guris não se queixam de Porto Alegre. Só optou por uma escola no turno da tarde pois é mais fácil tirá-los da cama para jogar bola do que para estudar. Sobre os costumes gaúchos, revela que, por já ter morado na Argentina, sempre gostou de chimarrão, vinho e churrasco.
– Faço chimarrão em casa, principalmente no inverno. Meu filho maior toma. Sei que os gaúchos vão ficar brabos comigo, mas tomo misturado com chá. Gosto muito de chá – justifica-se o cearense nascido na cidade de Quixeramobim, sertão nordestino.
Mesmo sem ser funcionário do Relacionamento Social do Inter, o atacante faz questão de participar dos eventos consulares para retribuir o carinho que recebe do torcedor. Durante os encontros, surge sempre a mesma pergunta. Todos querem saber por que escolheu passar para Gabiru no lance que definiu o Mundial de 2006. A explicação, segundo Iarley, é que seria uma assistência para gol e também uma opção para surpreender o adversário, já que todos esperavam o toque para Luiz Adriano.
O futebol, agora, resume-se a partidas de futebol 7 com colegas das categorias de base. Meses atrás, chegou a treinar e disputar o Estadual de Futsal Série Prata por uma equipe de Alvorada. Mais por hobby, garante, já que o técnico é o padrinho de um de seus filhos. No campeonato, fez quatro gols em quatro jogos, mas a rotina no Inter acabou inviabilizando a permanência nas quadras.
Ao retornar à capital gaúcha oito anos após se despedir do Inter como jogador, Iarley encontrou uma cidade mais violenta e uma população assustada com a criminalidade. Mesmo assim, pretende seguir por aqui, desde que consiga espaço para evoluir na nova carreira:
– A intenção é permanecer, mas vai depender dos planos do clube para mim. Não pretendo ficar sempre na base. Quero concluir a minha formação para, no futuro, fazer parte do elenco principal.
*ZHESPORTES