O calendário cada vez mais exigente no futebol brasileiro faz com que os clubes se desdobrem para evitar lesões. Com média de 70 a 80 partidas no ano, as equipes das Séries A e B, que chegam a encarar até oito jogos por mês, são obrigadas a poupar seus jogadores, sob pena de que eles "estourem". Na avaliação do nível de desgaste dos atletas, a enzima creatina quinase, ou CK, como é mais conhecida, assumiu importante papel.
O exame de CK consiste na medição da concentração da substância na corrente sanguínea. A enzima fica armazenada nos tecidos musculares e, pelo intenso esforço, podem ocorrer pequenas rupturas nas fibras, principalmente nos adutores do quadril, exigidos em arrancadas e chutes. Estes rompimentos liberam a CK no sangue e, se constatado o alto nível, o jogador estará mais desgastado e, portanto, mais propenso a se lesionar.
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– Se o CK aparece em altos valores, é porque o músculo está com pequenas rupturas. Isso é meio caminho para uma grande ruptura – explica o fisiologista do Inter e da Seleção, Luiz Crescente.
Mais importante até do que o exame de CK é o feedback do atleta após os jogos, seja ainda no vestiário ou no dia seguinte. Com os relatos de dores, os fisiologistas avaliam se o jogador necessita de mais descanso.
Até porque o calendário reserva meses inteiros com dois jogos por semana aos clubes no Brasil e, por isso, a recuperação é prejudicada. Para Luiz Crescente, o ideal seria que os atletas intercalassem uma semana com dois jogos com outra livre para regeneração.
– O ideal é não passar de seis jogos no mês, assim dá tempo para recuperar e repor energia – completa Crescente.
O fisiologista do Grêmio, José Leandro Oliveira, lida com um calendário ainda mais complicado. Até porque o clube disputa Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores ao mesmo tempo. Por isso, o técnico Renato já teve de poupar seus titulares contra Sport e Palmeiras. O exame de CK geralmente é realizado entre 36 e 48 horas após os jogos, quando o nível da enzima se estabiliza.
– Quando o jogo é no domingo, realizamos o exame na terça-feira. Dependendo do resultado, liberamos o jogador para treinar ou seguramos para dar mais descanso. Como temos muitos jogos, os treinamentos estão sendo suprimidos. O tempo é para recuperação e conversa – conta José Leandro.
O contraste do calendário brasileiro com o europeu é ressaltado pelo preparador físico gaúcho Michel Huff, que hoje trabalha no FC Tosno, da Rússia. O profissional conta que na Europa um clube raramente passa de 60 partidas na temporada.
Pelo maior tempo de recuperação, o exame de CK é menos utilizado. Mas quando o calendário aperta, o desgaste precisa ser mensurado. O preparador salienta que o resultado do CK não pode ser analisado individualmente.
– Não se pode tirar alguém de um jogo só pelo exame. Já aconteceu de fazer a análise, o jogador ter níveis bons de CK e depois machucar. A avaliação depende do histórico e da recuperação. Mas, no Brasil, existe esta questão cultural de titulares e reservas. Na Europa, você precisa ter duas opções em alto nível. Assim, você pode substituir sem prejuízos – entende Huff.
*ZHESPORTES