Pois o fim de semana de sol e frio que se aproxima pode ser uma boa oportunidade para ir até Campo Bom, no Vale do Sinos – distante em torno de 50 quilômetros de Porto Alegre. Bem no centro, em uma pista cravada na ciclovia mais antiga da América do Sul, nada mais justo do que apreciar o Campeonato Brasileiro de BMX – ou bicicross para quem viveu o esporte com intensidade nos anos 1990 no Rio Grande do Sul e no Brasil.
Não é popular, não é fácil de se praticar, não é barato e sofre com a escassez de divulgação tanto quanto outros esportes amadores – ao menos para muitos pilotos – no país. Em relação ao bicicross, só há uma garantia: técnica, velocidade, treinos (muitos treinos) e tombos (muitos tombos) fazem dele um esporte bastante vistoso de se ver.
Tive a oportunidade de correr BMX entre 1993 e 1996. Foram quatro temporadas intensas, nas quais o que mais aprendi foi desenvolver um espírito de equipe tamanho mesmo em um esporte individual. Havia polos, no Estado, que se destacavam. O Vale do Sinos era o principal deles, com pistas e atletas em Novo Hamburgo, Sapiranga, São Leopoldo e, claro, Campo Bom. Mas Santa Maria, Lajeado e Santa Cruz também entravam na lista – se não estou enganado, havia uma pista na fronteira também (talvez Bagé).
Dizem que o esporte surgiu na Holanda do final dos anos 1950, mas se popularizou mesmo na Europa e nos Estados Unidos nos anos 1970, chegando para valer ao Brasil entre o final desta mesma década e o início dos anos 1980, quando, em meio a E.T. e Goonies, tornou-se muito popular – para depois voltar com força nos anos 1990. Todo mundo queria ter uma bicicleta. E voar. E ver os pilotos mais velhos fazendo piruetas nos treinos. E, por fim, associar-se a um clube e fazer parte da equipe que perambulava o Brasil de ônibus – como na viagem que os gaúchos fizeram até a mineira Pirapora para correr em uma pista ao lado do Rio São Francisco. Bicicross, no fim das contas, também era cultura.
Foi uma época em que ser meio criança, meio adolescente nos deu a oportunidade de coletar amizades que perduram até hoje – e daí vem a presença do espírito de equipe do qual falei anteriormente. Eu não tinha a técnica e nem o talento dos Krindges (família de Novo Hamburgo de campeões mundiais em diferentes gerações) nem dos meus primos Becker, de Campo Bom, que acumulavam conquistas. Mas cada momento foi apreciado tanto quanto a memória daqueles tempos.
Vai ser bom voltar a Campo Bom. Ainda mais para ver de perto o quanto esporte evoluiu.