"O Palmeiras me lembra um jogador voraz de buraco que compra a mesa toda a hora, não faz jogo e ainda morre com tudo na mão quando o outro bate".
A bem humorada frase foi publicada no Twitter do comentarista Sérgio Xavier Filho, do SporTV, e ajuda a entender o mau momento do clube com maior poder de investimento em contratações do país.
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Tudo que deveria servir como solução, hoje é apontado como problema no Palmeiras que não vence há quatro jogos e ocupa o modesto 16º lugar no Brasileirão. A contratação de Eduardo Baptista, trazido para dar melhor futebol ao time que tinha resultados sem encantar, não deu certo. O retorno de Cuca, até aqui, também não. Mesmo a força no mercado para contratar, conferida pelos milhões da patrocinadora Crefisa, virou o fio.
– É uma maluquice dos caras que têm muita grana. Acham que, com uma nova contratação, você resolve tudo. Evidente que jogam um pouco para a torcida. Se tem uma coisa que torcedor gosta mais do que vitória, é contratação. E eles não param. Não conseguem encaixar os novos e já estão pensando em mais novos – diz Xavier.
– Chega a um momento que vira loucura. Agora estão falando no Richarlison, do Fluminense. Só naquela posição já tem o Keno, o Dudu...Tem tantos que a gente se esquece de alguns. O Roger Guedes é um cara que joga pelo lado também. O excesso de contratações tira um pouco daquele sentido coletivo de grupo – analisa Paulo Calçade, comentarista dos canais ESPN.
Desde o glorioso fim de 2016, com a conquista do título brasileiro, a instabilidade marcou o ambiente do Palmeiras. Cuca decidiu sair e teve início o trabalho de Eduardo Baptista. Sem poder contar com Moisés, apontado como essencial para a campanha do título brasileiro e lesionado gravemente (retorna em agosto na mais otimista das previsões), teve de reestruturar as peças do meio-campo. Ganhou Guerra e Felipe Melo. Desembarcou, também, o colombiano Borja para o lugar de Gabriel Jesus, decisivo na conquista em 2016. Havia abundância de jogadores de qualidade, mas as mudanças na formação e no jeito de o comandante pensar futebol demandavam tempo para o encaixe ideal.
– Havia burburinho no ambiente do Palmeiras com o Eduardo Baptista porque não era um nome de consenso. Achavam que era um cara sem bagagem. Foi uma aposta do Alexandre Mattos (diretor executivo de futebol). O Baptista fez um bom trabalho, mas o time não estava jogando o que se esperava – avalia Arthur Stabile, repórter setorista do Palmeiras no Diário de São Paulo.
Cuca retornou carregando a expectativa de que sua mera presença na casamata devolveria o time ao nível de 2016. Antes criticado por parcela de imprensa e torcida, o chamado "Cucabol", estilo de marcação sólida e excelência em bola aérea e lances de bola parada, seria bem vindo se trouxesse os resultados de antes. Não trouxe.
Cuca tem encontrado dificuldade para fazer a transição entre as ideias de seu antecessor e as suas. O tipo de marcação é apontado como um dos grandes entraves. Baptista é ferrenho adepto da marcação por zona, enquanto Cuca acredita que seus jogadores devem perseguir os adversários que entram em seu setor, muitas vezes abandonando sua posição. A troca de metodologia tem cobrado o preço.
– O Palmeiras é um time que passa, em junho, por processos que devem acontecer em janeiro – resume Calçade.
A chave, então, seria tempo para trabalhar as peças de qualidade indiscutível e fazê-las funcionar em conjunto, seguindo uma ideia clara de futebol. O Palmeiras dos últimos anos, porém, tem essa tendência de "comprar a mesa" a cada turbulência, trazendo mais reforços que exigem ajustes do treinador e alimentam a já gorda expectativa, talvez a mais dura adversária do clube nesses tempos de bonança.
* ZH Esportes