Alisson define a sua primeira temporada na Roma, quase um ano após trocar o Inter pelo sonho de jogar na Europa, como um "período para exercitar a paciência". Titular absoluto na Seleção Brasileira, o ex-jogador colorado ainda é reserva na equipe do técnico Luciano Spaletti. A tendência é de que o cenário mude na próxima temporada, quando o titular, o polonês Szczesny, deve retornar ao Arsenal.
É o que Alisson aguarda para seguir os passos de ídolos romanistas como Falcão e Antônio Carlos Zago, e conquistar títulos pelo time italiano. O Camisa 1 da Seleção vive na zona sul de Roma com a mulher, a médica gaúcha Natália Loewe. Alisson recebeu a reportagem de ZH e Rádio Gaúcha no seu apartamento, em Roma, onde fez um balanço do seu primeiro ano na Itália, contou como o bom momento da Seleção de Tite repercute na Europa e também expôs a sua visão sobre o rebaixamento do Inter à Série B.
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Que balanço você faz desse seu primeiro ano na Europa?
Tem sido um ano diferente, de novidades. Tudo está sendo novo. Se fizermos um balanço geral, foi um ano positivo para mim. Já seria de qualquer forma por eu estar realizando o sonho de jogar em um grande clube europeu. Está sendo gratificante. É um misto de momentos bons e outros nem tanto na Roma. E também um ano de classificação para a Copa com a Seleção Brasileira.
Você é reserva na maioria dos jogos da Roma. No Italiano, joga o goleiro polonês Szczesny. Você foi titular só nos jogos da Liga Europa e da Copa da Itália (a Roma está eliminada em ambas). Como foi tomada essa decisão pelo técnico Luciano Spaletti?
Aconteceu de forma natural. Estamos acostumados no Brasil a chegar e jogar todas as partidas, como eu fazia no Inter. Logo após a minha chegada, houve a conversa de que o Szczesny (que estava emprestado pelo Arsenal) poderia ficar ou sair. Continuei fazendo o meu trabalho da mesma maneira, aproveitei a pré-temporada para me preparar como se eu fosse entrar em campo. Joguei os amistosos no inicio, contra o Liverpool (vitória por 1 a 0) e o Montreal (vitória por 2 a 0) e tive boas atuações. Então, o Spaletti me informou de que já havia pedido a permanência do Szczesny (o polonês acabou tendo o empréstimo renovado por uma temporada) antes de saber que eu chegaria à Roma. Até porque ele não me conhecia de perto. Só havia visto alguns jogos e queria conhecer o meu caráter. Lógico que eu gostaria de ter jogado mais. Ainda não fiz a minha estreia no Campeonato Italiano. Mas este foi o ano de exercitar a paciência e esperar.
Mesmo sendo reserva na maioria dos jogos, você segue titular da Seleção. Você não temeu que essa situação pudesse te prejudicar com o Tite?
Fico feliz de conquistar a confiança do Tite, do Taffarel e de toda comissão técnica da, hoje, melhor seleção do mundo. A gente vem fazendo, com os jogadores de linha, um trabalho defensivo muito bom.
O que mudou no seu futebol na Europa? Você teve de aprimorar o seu jogo com os pés?
Continuo me aprimorando. Trabalho para estar cada vez melhor nesse quesito, principalmente na minha equipe. Somos um time que sai jogando muito de trás. Dificilmente dou algum balão para frente. Temos um jogador que segura muito bem a bola na frente, que é o Dzeko. Quando aperta a coisa ali atrás é um desafogo para gente, mas o Spaletti pede muito para sairmos jogando com passes um pouco mais elaborados, ousados. Isso tem sido uma novidade para mim, apesar de eu já tentar jogar desta forma na época de Inter. Acredito que já deixei o torcedor colorado muito nervoso (risos) por esse meu estilo mais arrojado de jogar com os pés. Isso me ajudou quando cheguei aqui e tem ajudado a gente também na Seleção Brasileira.
Há perspectiva que o Szcezny deixe a Roma na próxima temporada e você vire o titular absoluto? Ou você cogita sair do clube para ser titular?
Acredito que as coisas estejam se encaminhando para um possível retorno do Szcezny ao Arsenal. Lógico que eu vou pensar em mim. Este ano foi um ano de ter paciência, de esperar, mas eu tenho que me valorizar. Acredito que tenho condições de estar jogando como titular, mas o meu foco está aqui na Roma. Adaptei-me muito bem à cidade, a minha filha vai nascer aqui. Espero, junto com a minha família, que o meu futuro se defina ficando na Roma. Tudo para que a gente chegue a 2018 e faça um grande Mundial, com possibilidade de título. Esse é o meu planejamento para o futuro. Se não for aqui na Roma, acredito que Deus tem coisas melhores preparadas para mim.
O que o Tite fez para a Seleção melhorar tanto a qualidade da equipe com praticamente os mesmos jogadores?
As pessoas que não acompanham o dia a dia acabam nos perguntando: "Nossa, que mágica o Tite fez?" Ele é um excelente profissional, um grande ser humano. Todas as pessoas que o conhecem sabem disso. Ele é um cara muito inteligente para fazer futebol e fazer a equipe jogar de forma organizada, atacando e defendendo.
Na América do Sul, a Seleção está sendo muito superior aos adversários. Contra as principais seleções da Europa, como seria este enfrentamento?
Eu vejo a Seleção pronta para estar nesse nível competitivo alto para chegar ao Mundial, talvez não como favorita, mas com expectativa de título. Lógico que vamos um passo de cada vez.
Após toda a repercussão do 7 a 1, como o bom momento da Seleção repercute na Europa?
Quando cheguei à Roma, o momento era diferente, a Seleção vinha de uma eliminação na Copa América. Todos perguntavam onde estava aquela Seleção de Ronaldo e Ronaldinho. Hoje, quando volto após datas Fifa, vejo de novo o respeito à Seleção. Vejo os meus companheiros comentando que "o Brasil voltou, o Brasil está muito bem" e questionando "o que aconteceu? Como é esse treinador novo? como são esses jogadores?". A gente fica muito feliz de ouvir essas opiniões, porque sente que está retomando o respeito que a Seleção Brasileira deve ter.
A Roma está em segundo no Italiano. Foi eliminada nas oitavas de final da Liga Europa pelo Lyon e caiu na semifinal da Copa da Itália para a rival Lazio. Como você avalia a temporada?
Somos uma equipe que tem por virtudes a qualidade e o toque de bola. Dificilmente damos um chutão. Um time que procura sair jogando mais com a bola no pé. É raro eu bater um tiro de meta dando balão para frente, mesmo contra um adversário pressionando. Temos jogadores bons no meio-campo. O Nainggolan, da seleção da Bélgica, faz a diferença na criação da nossa equipe. Temos jogadores que possuem qualidade de finalização e também de criação de jogo. Infelizmente, nas copas que disputamos, não conseguimos resultados tão bons como no Campeonato Italiano. Mas dificilmente fazemos menos de dois gols por jogo.
Você, que esteve no Inter até maio de 2016, ficou surpreso com a queda da equipe para a Série B do Brasileirão?
Sim. Pegou-me desprevenido. Foi algo que frustrou e decepcionou todo colorado. A gente sabia das nossas limitações como equipe e sabia também do nosso potencial. Tivemos a conquista do Gauchão. Um ótimo início no Campeonato Brasileiro, que nos deixou com uma empolgação maior. Teve um empate no início com a Chapecoense, que foi a minha última partida, e, depois, houve cinco vitórias. Antes desses jogos, não se tinha uma expectativa muito grande da nossa equipe. Depois dessas partidas, a equipe adquiriu confiança e se encaminhou para algo que parecia ser muito diferente do que aconteceu no final da temporada.
Na sua opinião, quais foram as causas do rebaixamento?
É muito complicado, existem vários fatores que podem causar uma queda: desempenho, má administração... Fiquei muito triste pelos meus colegas, nenhum deles merecia. É muito difícil, mas o Inter tem de ver o rebaixamento como uma experiência para crescer, assim como vários clubes fizeram após caírem para a Segunda Divisão. Um exemplo é o Corinthians, que foi rebaixado e, logo após, foi campeão da Libertadores e do Mundial. Lembro que o Cruzeiro, antes da conquista do bi brasileiro, esteve entre os últimos colocados, brigando para não ser rebaixado. O clube tem de aprender com os erros e tentar fazer do limão uma limonada. Acho que é o momento de ser humilde, de trabalhar duro e forte. Já vejo uma evolução da equipe do Inter. O Zago vem fazendo um bom trabalho. Conversando com alguns jogadores, eles vêm elogiando a maneira dele de trabalhar. Acredito que o time retornará rápido para a Primeira Divisão.
Pela sua ligação com o Inter, o pessoal na Roma conversa bastante com você sobre o Falcão e o Zago?
O (nome do) Falcão vem de maneira natural, até por eu estar seguindo os mesmos passos dele na questão de transferências (do Inter para a Roma) e de eu estar na Seleção também. Espero que eu possa conquistar títulos como o Falcão conquistou e me tornar um jogador consagrado como ele foi. Escutamos também bastante o nome de Zago. Todos comentam que ele fez um grande trabalho e se tornou parte da história da Roma. Sempre que um ex-jogador vem assistir a um jogo, ele é ovacionado. Tenho certeza de que, com o Zago, não será diferente.