Tcheco é um sujeito apegado às suas orígens e aos vínculos afetivos. Aos 40 anos - completará 41 no próximo dia 11 -, voltou ao Paraná Clube, onde jogou futsal e futebol por uma década, até sair escorraçado em 1998. Carregou essa pendência até o final de 2016, quando topou voltar à Vila Capanema como coordenador de futebol. Três meses depois, o clube comemora seu melhor momento desde 2006, quando conquistou seu último campeonato paranaense e a vaga na Libertadores, sob o comando de Caio Jr.
O Paraná fechou a fase de classificação do Estadual com a melhor campanha. Venceu nove dos 11 jogos, perdeu apenas um e atingiu 84,8% de aproveitamento. Na quarta-feira, com time misto, venceu o Atlético-PR por 1 a 0. Neste domingo, os dois times voltam a se enfrentar na Arena da Baixada, agora no mata-mata. Tcheco está sorrindo à toa com a campanha. E com o fato de a torcida do Paraná voltar a se orgulhar do time, a ocupar as arquibancadas da Vila Capanema e a ver guris da base serem lançados. Guri como ele foi um dia. E como um dia foram Perdigão, Ricardinho, Giuliano e Everton Santos, para citar alguns. A bola da vez é Renatinho, craque da primeira fase do Paranaense. Poucos apostam que ele fique na Série B.
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- Joguei por 10 anos futsal no Paraná Clube. Depois, no campo, fui tetra e penta no Estadual, em 1996 e 1997. Acabei dispensado e ficou algo meio mal explicado. Voltei pela minha origem e pelo clube, que precisa resgatar a hegemonia no Estado. Quem sabe, passo a passo, podemos obter êxito no Brasileirão - me diz Tcheco por telefone, logo depois de uma reunião na Vila Capanema.
O ex-meia, como se percebe, é apegado às origens. E também aos seus vínculos afetivos. Como o que construiu com o Grêmio. O clube está em seu horizonte. Sonha em um dia voltar como técnico. Cada passo desde que deixou os gramados, em julho de 2012, é calculado.
A aposentadoria foi no Coritiba, outro com o qual criou laços. Saiu do campo para o gabinete, como supervisor de futebol. No ano seguinte, fechou e temporada como técnico interino e evitou o rebaixamento. Em 2014, assumiu como gerente de futebol e, em 2015, virou técnico do sub-23, onde ficou até março de 2016.
A volta ao Paraná, para ser coordenador de futebol, explica Tcheco, é como se fosse mais uma disciplina em seu curso particular de técnico. Talvez uma das últimas. Sua função no cargo atual é transitar pelo vestiário, resolver pendências que possam conturbar o ambiente, monitorar o trabalho do técnico Wagner Lopes e fazer a conexão dele com os dirigentes. Como nos tempos de jogador, faz a ligação entre os setores e usa sua experiência de mais de duas décadas de futebol para ser os olhos do presidente no campo.
- Minha função é não sobrecarregar o técnico com problemas extracampo. Questões com o jogador e o vestiário cabem a mim. A missão é não permitir que o treinador tenha mais problemas do que já enfrenta no campo. Por outro lado, faço a avaliação do trabalho dele, dos métodos de treinos e da relação com os jogadores no vestiário - explica o ex-capitão gremista.
Peço a Tcheco um exemplo de sua atuação. De primeira, ele conta um episódio com o meia Guilherme Biteco. Em sua estreia, depois de longo período de preparação, o ex-gremista entrou no clássico contra o Coritiba. Melhorou o time e teve atuação de alto nível. Só que o Paraná perdeu o clássico - sua única derrota no Estadual. No vestiário, Biteco irrompeu em um choro quase convulsivo. Os companheiros se impactaram. Tcheco agiu rápido. Tirou-o para fora do vestiário, acalmou-o e contornou a situação. A justificativa do choro foi demolidora.
- O Guilherme queria homenagear o irmão com o gol. Era o primeiro jogo dele depois do acidente da Chapecoense, e ele quase fez. Por isso chorou daquela forma. Foi muito forte - conta Tcheco.
Biteco é apenas um dos jogadores de uma legião gaúcha no Paraná. O clube buscou em Porto Alegre algumas revelações que não vingaram por aqui ou não tiveram chance. Casos dos colorados Kaike, lateral-esquerdo, e Alex Santana, volante. Os dois são titulares e estão em alta. Biteco está em ascensão. Na quarta-feira, entrou contra o Atlético-PR e melhorou o time. Pessali, outro ex-gremista, ainda busca espaço. O zagueiro Brochi, ex-Brasil, é titular. O meia Zezinho, ex-Juventude, enfrentou lesões e começa a ganhar chance.
Contratar está fora do escopo do coordenador. Mas ele colaborou buscando informações com os amigos deixados no Rio Grande do Sul. Tcheco, como já se disse aqui, conserva seus vínculos afetivos. Por isso, não tira o Grêmio do horizonte.
O projeto para reencontrar a torcida que o tem como ídolo está em curso e com sucesso. Como se vê nesse resgate do Paraná, o time do seu coração.