Foi um recado duro e direcionado para nós, da imprensa, a entrevista/desabafo de Eduardo Baptista ao final da vitória do Palmeiras sobre o Peñarol. Ele foi tão contundente que as cenas de selvageria que vimos no Estádio Campeón del Siglo perderam o espaço que normalmente receberiam nos programas esportivos.
Baptista errou e acertou em sua manifestação. Mas isso é o de menos. O grande mérito da entrevista concedida ao final do jogo foi que abriu para debate um tema que borbulha numa caixa fechada. Desde o começo dos anos 2000, clubes e imprensa se afastam. Mais do que isso, caminham de costas um para outro quando deveriam conviver em um ambiente de sinergia, de troca, de crescimento conjunto.
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O desabafo de Eduardo Baptista é fruto do hermetismo que os clubes brasileiros importaram da Europa. Há um abismo entre jornalistas e fontes nos nossos grandes clubes. O protocolo das entrevistas coletivas e das conversas agendadas simula aproximar os dois lados. Só simula. Repórteres setoristas veem de longe ou de forma esporádica os protagonistas do espetáculo, que são os jogadores e os treinadores. E esse distanciamento abre espaço para que aumente nesse ambiente a importância do dirigente, o conselheiro e outras figuras que orbitam ao redor do vestiário. Muitas vezes, essas fontes agem por interesse, para construir um cenário ou desestabilizá-lo.
Evidente que cabe ao jornalista interpretar a informação e checá-la à exaustão. Tenho certeza de que Juca Kfouri, o alvo da fúria de Baptista, cumpriu todas essas etapas. O Juca não é um jornalista esportivo. Ele é o jornalista esportivo, um dos craques de uma geração que fez, por exemplo, uma revista semanal de futebol vingar no Brasil, a Placar.
Agora, também tenho certeza de que, se o Juca tivesse acesso ao Olimpo em que os clubes colocam seus técnicos e jogadores, ele ligaria para o Eduardo Baptista e perguntaria para ele se as informações que recebeu eram verídicas. Também tenho certeza de que o Eduardo Baptista, se descesse desse Olimpo, também aprenderia muito com o Juca. Seria uma troca. Todos ganhariam. Foi assim até o início dos anos 2000. E ninguém nunca precisou dar soco na mesa. Pelo contrário, Em vez disso, sentou-se diante do jornalista e resolveu no dia seguinte. Não precisou esperar a coletiva da semana.