A retirada de patrocínio do megacampeão Rio de Janeiro é mais um sintoma das dificuldades que o vôlei enfrenta. O tema é debatido pela jornalista Taís Seibt
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O Rio de Janeiro, uma das maiores potências do vôlei feminino brasileiro, perdeu seu principal patrocinador. A Unilever confirmou oficialmente a informação adiantada pela ex-levantadora Fernanda Venturini à imprensa. O Sesc RJ vai assumir a conta, mas se está difícil para um time com 11 Superligas, quatro sul-americanos e um vice-campeonato mundial de clubes no currículo, imagine para quem corre por fora.
O levantador Ricardinho, também capitão e presidente do Maringá, que luta para permanecer na elite do vôlei masculino nacional, cantou a pedra em uma lúcida entrevista publicada em ZH no mês passado: o investimento nos clubes é desigual, a verba está sempre no limite, não dá para montar categorias de base e a negociação da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) com a TV também não ajuda.
Resultado: temos duas ou três superequipes que, de fato, disputam o título e outras 10 que só cumprem tabela. No feminino, até mesmo um dos grandes agora corre risco de desmonte. No Rio Grande do Sul, temos exemplos recentes. O Voleisul subiu para a série A em 2014/2015, não conseguiu se manter, voltou a cair e, sem patrocínio, agora nem disputa a série B. As meninas da Sogipa entraram na Superliga B em 2014/2015, foram vice-campeãs, e o projeto estacionou logo depois por falta de verba. Bento e Canoas têm perseverado com dificuldade, e a incerteza paira novamente sobre dirigentes e atletas na reta final de mais uma Superliga.
Quem mais perde com isso? O esporte brasileiro. Ou de onde você acha que sairão novos Tandes, Gibas, Anas Moser e Fofões? Sem estrutura nos clubes, o que inclui formação de atletas e um campeonato nacional competitivo, será muito difícil montar seleções como as que vimos conquistar tantos títulos nas últimas décadas.
CBV, governos e mídia têm parte nisso.
É mais fácil ver uma partida da quarta divisão do campeonato amazonense de futebol na TV do que um jogo da Superliga. Esporte não é só futebol, embora os jornais quase consigam nos convencer do contrário com tantas pautas sem valor notícia enchendo páginas e grades de programação diariamente, enquanto outras modalidades são ignoradas.
Parte do incentivo midiático e financeiro monopolizado pelo futebol precisa escorrer para outros esportes no Brasil. O vôlei pede socorro para continuar no topo.