Em todo início de temporada, surge a mesma discussão: o Gauchão é ou não é um campeonato "engana bobo"? Um dos maiores defensores desta tese é o meu amigo Wianey Carlet. E sou obrigado a concordar com o "Tata", como carinhosamente é chamado o comentarista da Rádio Gaúcha e da ZH.
Leia mais:
Catia Bandeira: shopping, ex-marido e o Inter
Cristiel Gasparetto: não deixem o futebol do Interior morrer
Carlos de la Rocha: não há gangorra. Há gestão ou falta dela
Cabe ressaltar que sou um ferrenho defensor dos campeonatos regionais, pois tenho profundo respeito aos atletas que buscam seus espaços pelos times do Interior. Também reconheço a dedicação dos dirigentes e das comissões técnicas de times que se organizam desde novembro para fazerem bons campeonatos. Mas a avaliação aqui se refere especificamente a Grêmio e a Inter.
A dupla Gre-Nal, mesmo com o Inter na Série B em 2017, tem estruturas e orçamentos completamente diferentes, e a exigência será sempre muito maior. Desde a base, os atletas recebem tratamento e condições de trabalho diferenciados. Portanto, o nível de exigência para os jogadores da Dupla nunca poderá ser comparado com a disputa regional, pois, logo em seguida, estarão enfrentando Palmeiras, Corinthians, Flamengo, Atlético-MG, sem contar as equipes da Libertadores. Muitas vezes, aqui no Sul, nos enganamos com atuações de alguns atletas durante o Gauchão. E aqui eu incluo todas as partes envolvidas no meio do futebol, desde dirigentes, passando pela imprensa, até os torcedores.
Acho até que a grenalização cega, que muitos torcedores vivem, acaba prejudicando uma análise mais realista sobre se um atleta tem ou não condições de vestir as camisas da Dupla. Prefiro nem citar nomes de jogadores, pois reconheço a dedicação de todos. Mas uma coisa é dedicação, outra é talento. Nos últimos tempos, o que alguns atletas conseguem fazer no Estadual não é colocado em prática nas demais competições.
No fim do mês, começa mais um Gauchão na vida de todos nós. Repito: sempre vou defender os Estaduais. Penso que a tradição e o regionalismo do futebol nunca podem acabar. Claro que podem e devem sofrer adaptações, para um melhor ajuste em relação ao calendário do futebol brasileiro e às outras competições evidentemente mais importantes. Mas o velho Tata tem razão. No máximo, o Gauchão deve servir como uma pré-avaliação. Que os atletas do Interior deem o sangue por mais espaço no mercado da bola, que os da Dupla façam o mesmo mas sempre com uma ideia de evolução ao longo das competições da temporada. E que todos nós, que giramos em torno das quatro linhas, possamos fazer nossas avaliações de acordo com a realidade de cada clube. Vamos tentar acabar com a maldita, mas verdadeira frase de que o Gauchão engana bobos.
*ZH Esportes