Fabiano era o insano, Christian era o pragmático. Paulo Nunes encarnava o diabo loiro, enquanto Jardel era a representação do frio e calculista. Bebeto bebê-johnson, Romário malandro. E segue: Marques e Guilherme, Edilson e Luizão, Edmundo e Evair. Duplas de ataque foram marcas eternas do jeito brasileiro de jogar futebol, mas talvez o verbo precise mesmo ser conjugado no passado. Com os onipresentes e adorados 4-2-3-1 e 4-1-4-1, passamos a viver a era do ataque de um homem só.
Todo mundo sabe: o futebol mudou, é necessário montar estratégias que envolvam mais os atacantes em movimentos defensivos, as ações de ataque são engordadas com presença constante de volantes e laterais e há quem comemore como gol uma saída de bola qualificada – mas precisamos mais do que nunca das duplas de ataque de volta. A coisa é maior. É simbólica.
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Se o futebol é o gol (e me parece claro que sim), forçar a barra nas funções defensivas de jogadores de ataque pode criar uma geração de jogadores que veem o chute, o drible, a imposição na base da habilidade – e, por consequência, o gol – como acessório.
Vê-se já que Antônio Carlos Zago deve apostar em esquemas com apenas um avante no seu Internacional de 2017: foram testados ali dois antigos jogadores do Juventude, Roberson e Brenner, além do uruguaio Nico López. Com apenas um deles responsável por colocar a bola para dentro, não é ousadia ou aventura premonitória imaginar que o Internacional vai precisar parir uma bigorna à fórceps para "deszerar" os placares de 2017 – ainda mais sem Vitinho, que garantiu bons mas insuficientes um-a-zeros no ano do rebaixamento.
Mas o caso emblemático parte de Tite: na vitória por 1 a 0 diante da Colômbia, anteontem, a Seleção Brasileira – de Jairzinho e Tostão, Garrincha e Pelé, Bebeto e Romário, Rivaldo e Ronaldo – entrou em campo com apenas Diego Souza, um meia, em funções claramente ofensivas. Robinho e Dudu eram periféricos, assistentes, armadores. Não à toa, o time – descontado o desentrosamento e o ambiente da partida – até conseguiu criar, mas tratou a área adversária como território sagrado, quando deveria tratá-la como uma Normandia a ser invadida. Foi fazer gol em uma jogada de lado.
Aceito as teorias, aplaudo as exibições e convivo com o tiki-taka na zona morta, mas jogar todo o peso do gol nas costas de apenas um jogador é afiar a flecha e esquecer do arco. Faço um pedido singelo, quase ingênuo e totalmente conservador. Pelo bem do futebol brasileiro, chega de formações terminadas em 1. Vamo pra dentro deles.