No bairro humilde de Envigado há um segredo guardado a sete chaves pelos colombianos. Ali, no município vizinho a Medellín, uma fórmula secreta é usada para revelar alguns dos principais craques do futebol do país. E o segredo que ajudou a moldar nomes como Freddy Guarín, Jackson Martínez, David Ospina, Juan Fernando Quintero, James Rodríguez e Falcão Garcia está prestes a ser revelado a um estrangeiro pela primeira vez.
Só que não é um forasteiro qualquer. Na condição de irmão mais novo, o povo chapecoense já ganhou a cidadania colombiana por adoção. E, portanto, a Chape está credenciada pelos antioquenhos (povo de Medellín e regiões arredores) para beber do elixir da especialidade deste lugar mágico e que intriga olheiros do mundo do futebol pela fertilidade em talentos.
O primeiro passo foi dado com o convite ao sub-12 da Chapecoense para participar do torneio Pony Fútbol, que é a ponta do iceberg na revelação de garotos no país e que hoje é responsável pela base da seleção nacional. O surpreendente trabalho tem o berço no Envigado Fútbol Club, inexpressivo no profissional, mas uma mina de ouro entre os jovens. É o clube que fornece também ao Atlético Nacional grandes talentos. Os atleticanos são os atuais campeões do Pony, competição que a Fifa namora para virar o Mundial sub-12.
Infelizmente, a Chapecoense teve de recusar o convite para o Pony, que começa dia 7 de janeiro, como explica o jornalista esportivo Daniel Cardona, do periódico El Colombiano:
– Muitas ações estão sendo pensadas para unir Atlético Nacional e Chapecoense, Medellín e Chapecó, e a primeira seria a presença da Chapecoense no torneio Pony Fútbol, que é o mais importante do país, infelizmente o clube não poderá vir por questões logísticas – lamenta.
O gerente da base da Chapecoense, Cesar Dal Piva, o Mano, explica a recusa:
– São garotos das escolinhas, que chamamos de polos da base, mas estamos nas férias escolares, não teríamos como montar o time para algo tão próximo.
Unir-se com a Chape na prospecção de atletas, contudo, é uma contribuição que o Atlético Nacional mira com carinho. O gerente esportivo, e ex-jogador do clube, Victor Marulanda, revê o passado e pensa no futuro:
– Há ainda um período de luto, de sofrimento, mas visualizamos, no futuro, a aproximação das instituições em diferentes esferas, e uma delas é a esportiva. Penso que uma das contribuições do Atlético Nacional possa ser o intercâmbio e a metodologia de investimento na base, cujos resultados são respeitados no mundo todo – avalia Marulanda.
De fato: se a Chapecoense sempre foi mestre em montar times profissionais, com especial habilidade nos atacantes, se beber do elixir de Envigado, completará um ciclo importantíssimo. O clube que contou com atacantes como Bruno Cazarine, Bruno Rangel, Paulo Rink, Rodrigo Gral, Índio, Ananias, Lucas Gomes e Kempes poderia começar a brilhar, também, na revelação de atletas.
E o embrião já existe, como confirma Mano.
– Temos mais de 300 jovens até 14 anos em 19 polos em toda região Oeste e em outros estados. Inclusive, já estão separados nomes para integrar a pré-temporada, que ainda teriam mais um ano na base, casos de Zago, Gabriel, Perotti e Guarapuava. Eles não vão à Copa São Paulo porque já se juntaram ao profissional. Claro que um intercâmbio deste nível com os colombianos só ampliaria os horizontes, seria um passo importante – avalia.
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