Há pouco mais de uma semana, algumas pitadas de uma pimenta das mais fortes foram jogadas no caldeirão que se transformou a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).
Presidente da entidade desde 1988, Coaracy Nunes Filho foi afastado do cargo por uma liminar que também atingiu o vice-presidente e mais três diretores. Eles são suspeitos de fraude em licitação, superfaturamento e desvio de dinheiro público em ação movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo.
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O afastamento chega a poucos meses da eleição presidencial, em que o candidato da situação, Ricardo de Moura – um dos diretores afastados –, deve enfrentar o presidente da Federação Aquática Paulista, Miguel Cagnoni, no início do ano que vem. Coaracy e seus aliados sugerem que o imbróglio jurídico tenha sido criado pelos paulistas para impulsionar a candidatura da oposição.
Em meio ao turbilhão, a CBDA reclama do andamento do processo e diz que o direito à defesa não foi respeitado antes da concessão da liminar. Já a oposição classifica como absurda a insinuação de que teria participação na abertura do processo, ao mesmo tempo em que busca angariar apoios de federações estaduais para a eleição.
– Começamos a receber ofícios de uma procuradora federal. Verificamos que era sócia de um dos clubes que havia feito algumas exigências à CBDA e mãe de dois atletas juvenis federados na Federação Aquática Paulista. Quando nós informamos, apareceu outra procuradora, que tem grau de parentesco com outro desafeto político da atual gestão. As duas procuradoras têm um certo grau de impedimento e suspeição no caso. Em nenhum momento elas permitiram que a CBDA prestasse esclarecimentos. O inquérito foi todo conduzido à revelia da CBDA – critica Marcelo Franklin, advogado da entidade.
– A Federação Paulista nunca teve nada a ver com o processo. No começo, eu achava engraçado. Pensava que não seria possível que eles achassem que tenho esta força, de fazer com que o Ministério Público mova uma investigação. Depois, vi que eles realmente acreditavam nessa versão – rebate Cagnoni.
O embate na Justiça é mais um capítulo do momento tenso dos desportos aquáticos. Os resultados decepcionantes da natação na Olimpíada colocaram pressão sobre a gestão de Coaracy, o mais longevo dos presidentes de confederação. Uma das entidades esportivas que mais recebeu recursos em investimento público e patrocínio nos últimos ciclos, a CBDA terminou os Jogos com apenas uma medalha – o bronze de Poliana Okimoto na maratona aquática.
O mau desempenho, combinado com as denúncias de irregularidades, podem ajudar a campanha da oposição, que tenta ampliar sua rede de apoios. Sete federações, incluindo a Paulista, formam há algum tempo o núcleo do grupo que critica a gestão da CBDA. Um número que, segundo o líder da oposição, tende a aumentar.
– O cenário político é bastante favorável. Existe um clima de mudança, não só na CBDA, mas em todo o país. Temos a ideia de encher as piscinas de praticantes. Criar uma base mais forte em todos os Estados. E há a questão de que ninguém quer ficar do lado de algo que está sendo combatido legalmente – pondera Cagnoni.