Josep Guardiola foi ao Camp Nou, onde tanto brilhou, e levou uma paulada de 4 a 0 com seu Manchester City diante do Barcelona. José Mourinho foi a Stamford Bridge, palco que o alçou ao estrelato no futebol europeu, e sofreu o mesmo 4 a 0 com seu Manchester United diante do Chelsea. Nesta quarta-feira, às 17h, os dois gurus da casamata se enfrentam em meio a questionamentos no segundo dérbi da temporada, válido pela Copa da Liga Inglesa.
Ainda que Pep e Mou amarguem momentos difíceis, não há como colocar as duas campanhas no mesmo saco. O City não vence há cinco jogos, mas ainda lidera o Campeonato Inglês. A situação do português que comanda o United é bem mais complicada, com seu time em sétimo lugar.
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– Estamos realmente tristes, mas o futebol não é para crianças, é para homens. E precisamos ser homens e trabalhar para a próxima partida – admitiu Mourinho após a goleada para o Chelsea.
Contratado para fazer o United retornar às glórias dos tempos de Alex Ferguson, Mourinho não tem feito muito mais do que o criticado Louis van Gaal, técnico contestadíssimo na temporada passada. Mesmo com contratações pesadas, como as de Pogba e Ibrahimovic, a equipe mostra as mesmas dificuldades para criar da campanha anterior. As peças mais ofensivas não trocam de posição para confundir a marcação, não há mobilidade e as estrelas não rendem. Pogba, contratação mais cara da história do futebol – o United desembolsou 105 milhões de euros para trazê-lo –, apresenta apenas lampejos do desempenho brilhante dos tempos de Juventus. Nos últimos jogos, foi utilizado mais à frente, como o meia central do 4-2-3-1, em uma formação recheada de jogadores altos e fortes no meio-campo que não funcionou.
– São situações bem diferentes. O Guardiola passa por um momento normal de dificuldade. É um cara genial que procurou o desafio de uma liga muito difícil. Está em fase de adaptação. Já o Mourinho cada vez mais faz jus à comparação com o Luxemburgo. Os métodos estão cada vez mais superados e ele não encontra soluções durante os jogos. O mais grave e preocupante é a dificuldade dele em lidar com isso – critica Mauro Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN.
De fato, Mourinho tem se irritado nas entrevistas coletivas. Em uma delas, disse, ironicamente, que o "novo futebol está cheio de Einsteins". Segundo ele, são os que querem apagar as vitórias de seus 16 anos de carreira por conta de um mau momento. O problema, como bem apontou o colunista Jonathan Wilson, do jornal britânico The Guardian, é que Mourinho sempre foi visto como um representante do "novo futebol", e agora esbraveja contra ele. O mau momento, aliás, já dura algum tempo. Entre 2002 e 2010, ganhou sete ligas nacionais e duas Ligas dos Campeões. De lá para cá, foram duas ligas nacionais e nenhum título europeu.
Na outra casamata, estará um rival em situação um pouco melhor, mas também desconfortável. O placar dilatado no Camp Nou conferiu mais drama à sequência do City sem vitórias. Após um início brilhante, com 10 triunfos em sequência, Guardiola se vê em dificuldade.
Os métodos pouco ortodoxos do espanhol têm sido alvo das críticas que sempre aparecem quando o resultado não vem. O City tem errado na saída de bola, mas permanece fiel à ideia de seu comandante de não se entregar ao chutão. A confiança no passe curto, mesmo que em regiões perigosas do campo, é apontada como responsável por alguns dos gols sofridos na sequência recente.
Há quem diga, também, que o estilo mais objetivo dos times ingleses, pouco afeitos às longas trocas de passe que marcaram a passagem de Pep pelo Barça, dificulte sua adaptação.
– Acho essa visão um pouco antiga. Ele já mostrou na Alemanha a capacidade de se adaptar a um jogo mais objetivo. O problema é que se espera dele que lidere com folga e massacre todo mundo – pondera Mauro Cezar.
Hoje, na casa do United, os dois técnicos que empilharam canecos nos últimos 10 anos fazem mais um aguardado embate, desta vez em uma situação que eles não estão lá muito acostumados a enfrentar. Que repitam, então, o duelo do mês passado, em que o City venceu o United por 2 a 1 em um clássico em que os dois transformaram suas equipes várias vezes para se adaptar a diferentes circunstâncias do jogo. É essa leitura brilhante e capacidade de mudar uma partida que se espera dos dois mestres, especialmente em meio às turbulências das últimas semanas.