São três minutos que separam a vitória da derrota. Um piscar de olhos, uma olhada para o lado, um segundo de desconcentração e o planejamento pode ir por água abaixo. Isto é judô. Luta de estratégia. O foco é tão fundamental quanto a técnica para conseguir o ippon, o golpe perfeito. E se tem uma característica que se nota na judoca Maria Angelina Andreola da Rosa Cardoso dos Reis, 14 anos, é o foco.
Esta característica foi essencial para a menina ser bicampeã brasileira e pan-americana (2013/14), na categoria sub-13, campeã brasileira dos Jogos Escolares de 2016 e conquistar vaga no Sul-Americano da Colômbia, em dezembro. Vitórias que não mudam a cabeça dela:
– Não procuro contar as vitórias, prefiro as experiências que tive. As vitórias vão passando e o que fica é o legado. Penso na próxima competição e no próximo foco.
Por mais firme que demonstre na primeira resposta, ela também se emociona com títulos. Ainda mais do calibre que já conquistou.
– A sensação de ganhar um título renomado é indescritível. No final, vale a pena sentir que tudo isso foi gasto em uma coisa que me traz felicidade. Não tem preço. A trajetória é dura, mas o final é sempre bom – completa.
E esta trajetória tem objetivos bem claros: ser atleta olímpica. Decisão tomada há três anos e não foi através de uma vitória. Foi em uma derrota no meeting de Florianópolis, quando representou o Recreio da Juventude, clube que defende há quatro anos. A terceira colocação no torneio demonstrou que não é só de vitórias que vive um atleta. Isso a fez fixar objetivos na carreira. O mais próximo é se tornar atleta de base da seleção brasileira de judô. O segundo é chegar nas Olimpíadas.
– O meu objetivo é 2020, mas acho que é pouco tempo. Porém, se eu trabalhar direitinho, eu consigo chegar lá. Com ajuda dos meus senseis, da escola e da minha família eu consigo chegar lá – acredita Maria.
Determinação da menina chama a atenção de todos
Em 2014, Maria Angelina surpreendeu família, técnicos e médicos com sua determinação. A 40 dias do Pan-Americano de Porto Rico, torceu o pé direito descendo uma escada na escola. O diagnóstico da médica ortopedista era de rompimento de dois tendões e um mês sem impacto no pé. Ou seja, Maria teria apenas uma semana de treinamentos e ficaria longe dos 100% para competir. A participação estava ameaçada. Mas, ela garantiu a todos que iria viajar e se fosse campeã prometeu dar pulos apenas com o pé esquerdo.
Foram 30 dias de muita fisioterapia no pé e treinos de fortalecimento muscular. Uma semana de trabalhos puxados e um receio: o pé lesionado. Ela chegou a adquirir duas tornozeleiras para utilizar no campeonato. Estratégia muito simples: com duas, as adversárias não teriam conhecimento de qual pé estava com problemas. Mas na hora da competição, não as usou.
De fase em fase, Maria foi avançando e na final venceu uma norte-americana mais graduada do que ela. Título assegurado, promessa cumprida.
– Nos surpreende essa força dela – relata a irmã Fabiana.