De capacete – uma recomendação médica após duas pancadas na cabeça que o tiraram das quadras – o goleiro da seleção russa, Gustavo Paradeda, tenta ser o herói de mais uma classificação histórica no Mundial de Futsal. Melhor do planeta em 2013, o pelotense que fez um gol chutando da entrada de sua área contra a Espanha nas quartas de final (veja aqui: https://www.youtube.com/watch?v=mITfjIVvSBg) é o representante gaúcho na semifinal que será disputada nesta terça-feira, em Medellín (o SporTV2 transmite). Após o último treino de sua equipe, conversou com Zero Hora.
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Qual a expectativa para a semifinal?
É a melhor possível. Enfrentaremos uma seleção que eliminou o Brasil e se credenciou muito bem para as semifinais. Não tem favorito, estamos acostumados a jogar contra o Irã, time forte e rápido, mas temos boa expectativa. Faz tempo que a Rússia não joga uma semifinal, e para nós seria muito importante passar à final.
Vocês esperavam chegar tão longe?
A seleção da Rússia já vem decidindo os campeonatos europeus. Jogamos as três últimas finais, é uma das forças do futsal da Europa, sempre foi. Então faltava isso no Mundial. É um grande resultado, mas as equipes da Europa, da América do Sul e o Irã, da Ásia, são muito fortes. Por isso, não posso dizer que é uma surpresa.
Na vitória sobre a Espanha, tu fizeste um golaço. É tua marca jogar com o pé?
Quando estamos à frente no placar, o adversário costuma usar o goleiro-linha. E isso me ajuda porque tenho facilidade em arriscar de longe e fazer gols, que acabam sendo golaços, por ser de longe. Tenho essa facilidade justamente porque comecei jogando futebol de campo na linha e levo isso até hoje.
Por enfrentar o algoz do Brasil, tem algum gostinho especial essa semifinal?
Não, não tem essa relação. Estamos acostumados a enfrentar o Irã, todos os anos vamos lá enfrentá-los em amistosos, tanto a seleção principal quanto a de jovens. Então conhecemos a qualidade deles e sabemos que temos, no mínimo, que repetir a atuação das quartas, contra a Espanha, para ter chance de ganhar.
Te surpreendeu a eliminação do Brasil?
Surpreende, com certeza. Esperávamos o Brasil entre os quatro, no mínimo. Independentemente de quem passasse entre nós e Espanha imaginava enfrentar a seleção, uma parada difícil. Surpreendeu a todos nós, e até aos amigos que temos lá dentro. Infelizmente, eles não conseguiram a classificação.
Essa derrota é um sinal de que o esporte está sendo executado equivocadamente aqui no Brasil?
É difícil falar, faz muito tempo que estou fora do Brasil. O que sei é o apenas o que escuto de pessoas ligadas ao futsal. Mas acho que profissionais e especialista é o que mais tem. Precisa é dar o controle para as pessoas certas. Jogadores que já pararam, que conhecem o meio, e alguns profissionais da área de gerenciamento seriam o mais indicado para o momento. Mas a seleção é muito grande. Até se comentou sobre a má preparação antes do campeonato, e eu alertava: o Brasil faz seis times e é favorito com todos. Então, claro, serve de alerta, mas daqui a quatro anos o país volta forte e favorito como sempre foi.
Sobre esse tempo longe do Brasil, como é a tua história?
Sou de Pelotas, joguei toda a base no Brilhante, um clube muito forte e respeitado nas categorias menores, um dos mais fortes do Rio Grande do Sul. Saí dali já aos 17 anos e fui para o Inter/Ulbra, na época. Depois segui na Ulbra, fui para a ACBF e para Londrina. Então decidi aceitar uma proposta do Cazaquistão, o primeiro lugar fora do país, aos 24 anos. Joguei cinco anos lá e então fui para a Rússia. Joguei no Sibiryak Novosibirsk, da Sibéria antes de ir para o Dínamo Moscou, o mais forte do país. Nesse meio tempo, recebi o passaporte russo, que me permitiu jogar na seleção.
Foi uma opção por não ter sido chamado para o Brasil?
Como qualquer menino, sonhava em vestir a camisa da seleção do meu país. Mas quando optei em sair do país aos 24 anos, sabia que estava dando adeus a esse sonho. No momento que pintou essa outra chance de vestir a camisa da seleção russa, uma das mais fortes do mundo, aceitei em fazer a nacionalização.
É boa a vida na Rússia? Pretende voltar?
Vivo muito bem na Rússia. O frio é complicado, mas como bom gaúcho, nada anormal. Sou casado com uma russa, pai de dois filhos, um nascido no Cazaquistão, outro na Rússia. Vivemos uma vida que possivelmente não teríamos no Brasil. Na Rússia é mais tranquilo, pode-se andar na rua sem tanto medo da violência. Como pai de família, me vejo tranquilo com os filhos lá. A princípio, seguimos lá. Tenho 37 anos, pretendo jogar ainda um pouco e mesmo depois de parar, a ideia é seguir lá, no meio do futsal.
*ZHEsportes