O dia 10 de julho de 2016 é histórico para o futebol mundial. Pela primeira vez, Portugal sagrou-se campeão da Eurocopa. Venceu a anfitriã França. Cristiano Ronaldo, seu melhor jogador, saiu de campo ainda no primeiro tempo.
Isso é muito bom para o futebol. Bom porque Portugal é um dos países onde mais se estudam futebol. Um dos seus craques fora de campo é Manuel Sérgio, filósofo, professor, doutor, educador e político. Sua tese de doutorado define a ciência da motricidade humana de que a educação física é a pré-ciência. José Mourinho o considera sua principal referência. Outro craque português é o doutor Júlio Manuel Garganta, da Faculdade Desporto da Universidade do Porto. Sua obra contextualiza conceitos atualizados de pensar o futebol.
A vitória de Portugal também é boa para o futebol porque vencer sem CR7 reafirma a importância do coletivo, da superação.
Nesse mesmo dia e, evidentemente, sem a mesma repercussão histórica, a diretoria do Internacional demite Argel Fucks. Mais do mesmo.
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Em 2014, depois de anunciar e criticar publicamente treinadores, Vitorio Piffero contrata Diego Aguirre. O treinador é criticado publicamente pelo presidente pela escalação num dos primeiros jogos do Gauchão 2015. Desconhecendo a metodologia de Aguirre, a diretoria se surpreende com o rodízio de atletas. Sem nenhum apoio da gestão, Aguirre é demitido após a eliminação na semifinal da Libertadores.
Mais uma vez, declarações públicas da diretoria: o substituto seria um treinador consagrado e teria contrato longo. Argel é escolhido. Inicia com uma campanha de recuperação no meio do campeonato nacional. Começa 2016 com o título do Gauchão. Um início muito bom no Brasileiro é interrompido por cinco derrotas consecutivas, que culminam na demissão. Mesmo nos bons resultados, o time de Argel tem um modelo de jogo muito diferente da cultura do Inter. Marcação pressão, linhas compactas e exploração dos contra-ataques foram importantes nesses momentos.
Enquanto o mundo avança e o futebol se moderniza, no Brasil, e em especial no meu Inter, o empirismo se repete. Decisões são baseadas em tentativas e erros, em ações desconexas e sem coerência. Alguma semelhança na forma de jogar de Argel e Aguirre?
Como amantes do futebol, nos resta parabenizar Portugal por seu feito histórico. E torcer para que, aqui na aldeia, Falcão tenha apoio e sorte para desenvolver seu trabalho. E que, acima de tudo, estudo, ciência, metodologia e gestão superem o obscurantismo do achômetro.
*ZHESPORTES