Único. Entre uma coleção de adjetivos para elogiar ou criticar Muhammad Ali, morto na madrugada deste sábado aos 74 anos, este resume bem sua trajetória. A lenda do boxe Muhammad Ali, ex-campeão dos pesos pesados, foi internado na quinta-feira devido a leves problemas respiratórios. Os sintomas, no entanto, revelaram-se muito mais graves do que o esperado.
Ele foi o pugilista que "dançou" para escapar dos rivais, e o negro preso por não querer ir à guerra em nome dos brancos que oprimiam seu povo. O provocador das frases de efeito, e o muçulmano que não respondia a seu nome de batismo, Cassius Clay, por considerá-lo "nome de escravo". O único tricampeão do mundo de seu esporte, e o batalhador contra a Doença de Parkinson, que o seguiu por mais de 30 anos e debilitou sua saúde até que complicações por problemas respiratórios o fizeram sucumbir.
Leia também:
As faces e as frases do campeão
O dia em que Muhammad Ali visitou Porto Alegre
Ali não mudou apenas o boxe com seu estilo pouco usual para um peso-pesado. Sem ele, os Estados Unidos, e, quiçá, o mundo, seriam diferentes.
Assim como provou que velocidade, movimentação e inteligência estratégica podiam vencer a força bruta dentro das cordas, mostrou que a subserviência a uma sociedade desigual e discriminatória não era a única opção. Colocou-se, assim, ao lado de heróis como Malcolm X e Martin Luther King, duas das referências políticas dos negros em seu país.
Será difícil encontrar outro personagem com a mistura explosiva de lucidez e arrogância, talento e determinação, força e caráter. O próprio Ali sabia.
– Eu sou o rei do mundo! – gritou, aos 22 anos, quando bateu Sonny Liston para conquistar o título mundial pela primeira vez, em 1964.
De alguma forma, sua incontida falta de modéstia tinha razão de ser. Muhammad Ali deixa o trono do mundo sem sucessor.
Os principais pontos da trajetória do lutador
CAMPEÃO OLÍMPICO
Jovem, Ali solidifica uma vitoriosa carreira amadora, que culmina no título olímpico conquistado em 1960, nos Jogos de Roma.
"EU CHACOALHEI O MUNDO!"
Ainda com o nome de batismo de Cassius Clay, bate Sonny Liston e conquista o cinturão dos pesados. No ringue, eufórico, berra aos microfones que "chacoalhou o mundo" e que é "o maior".
ISLAMISMO E TROCA DE NOME
Logo após a conquista, anuncia que se juntou à Nação do Islã. É rebatizado com o nome Muhammad Ali, mas jornalistas e adversários seguem lhe chamando de Cassius Clay, o que o enfurece.
CONVOCAÇÃO RECUSADA E PRISÃO
Em 1967, é chamado a lutar na Guerra do Vietnã. Vai preso, condenado em primeira instância a pena de cinco anos. Fica em liberdade enquanto o recurso vai até a Suprema Corte, mas as comissões de boxedos EUA lhe negam permissão para lutar. Fica quatro anos longe dos ringues, até que a decisão em última instância o absolve. Durante o período fora do boxe, solidifica a imagem de líder político com palestras condenando a opressão dos negros.
"LUTA DO SÉCULO" E REVANCHE
Em 1971, de volta aos ringues, Ali enfrenta o que viria a ser seu principal rival, Joe Frazier. No Madison Square Garden, em Nova York, perde, por pontos, pela primeira vez como profissional. Três anos depois, reencontra seu algoz e consegue a revanche, também por pontos.
NO ZAIRE, O SEGUNDO TÍTULO
Ali era o azarão diante do favorito George Foreman no Zaire, em 30 de outubro de 1974. Antes da luta, o agora veterano de 30 anos recebeu o apoio dos locais, que tornaram célebre o grito de "Ali, boma ye!" (Ali, mate-o). Conquistou seu segundo título após sofrer duros golpes de Foreman até desgastá-lo. Venceu por nocaute.
FRAZIER, DERROTA E TERCEIRO CINTURÃO
Em 1975, Ali volta a enfrentar Frazier em mais uma luta épica, dessa vez em Manila, nas Filipinas. Vence por nocaute técnico. Três anos depois, perde o título para Leon Spinks. Recupera-o meses depois contra o mesmo adversário e se torna o primeiro boxeador a conquistar o título três vezes.
DECLÍNIO
Em 1979, Ali anuncia a aposentadoria, mas tenta o retorno um ano depois. Na época, já apresentava tremores nas mãos e problemas para falar. Mesmo assim, luta contra Larry Holmes e é facilmente derrotado. Aposenta-se em 1981 após perder seu último combate contra Trevor Berbick.
PARKINSON E HOMENAGEM
Em 1984, Ali é diagnosticado com a Doença de Parkinson, doença comumente relacionada a traumas na cabeça. Doze anos depois, aparece trêmulo na cerimônia de abertura da Olimpíada de 1996, em Atlanta, e acende a pira olímpica, em uma homenagem emocionante.
FAMÍLIA NUMEROSA
Quatro casamentos, sete filhas e dois filhos. Ali teve uma vida pessoal agitada, mas "sossegou" com a quarta mulher, Yolanda "Lonnie" Williams, com quem se casou em 1986 e ficou até seus últimos dias.