Quando Maria Portela tinha 11 anos, avistou um avião subindo em direção ao Oceano Atlântico. Naquele momento, ela questionou a sua professora de judô, Aglaia Pavani, para onde estaria indo a aeronave. Aglaia respondeu: "Para a Europa". Maria retrucou: "Um dia, eu vou estar neste avião". Sete anos mais tarde, já distante das asas de Aglaia e da sua mãe, dona Sirlei, Maria telefonou para a sua primeira sensei e disse: "Vou participar do Circuito Europeu de Judô". Desde então, a pupila mais famosa do projeto social Mãos Dadas não parou mais de voar. São incontáveis participações representando a seleção brasileira de judô mundo afora.
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Maria nasceu em Júlio de Castilhos. Mas, no seu peito, bate o Coração do Rio Grande, terra que a adotou aos seis anos. Foi em Santa Maria que ela descobriu o judô, aos oito anos. Do bairro Tancredo Neves, na região oeste da cidade, transborda orgulho em quem a ensinou a atar o primeiro nó na faixa do quimono.
– Andava com a Maria pela mão e saía pelas ruas de Santa Maria pedindo patrocínio. Naquela época, somente uma empresa privada resolveu apostar nela. E olha onde ela chegou – orgulha-se Aglaia, 57 anos.
Inspirados por Maria, outros 750 atletas do projeto Mãos Dadas, que nasceu no bairro Tancredo Neves, no Ginásio Oreco, há 22 anos, mas que hoje já conta com oito núcleos espalhados pela cidade, compartilham do mesmo sonho, que se torna muito mais real a partir do exemplo:
– Quero ser como a Maria. Participar de uma Olimpíada um dia – sonha Alan Expedito da Silva Alves, 12 anos, morador do loteamento Cipriano da Rocha, que, assim como Maria, tem outros três irmãos e, muitas vezes, acorda às 4h para treinar.
A batalha da família Portela começou em solo castilhense. Dona Sirlei precisou superar a perda do marido, Miguel, por um câncer, e teve de cuidar sozinha dos quatro filhos (Bruno, 26 anos, Maria, 28, Luiz Henrique, 31, e Aline, 33). Após o falecimento de Miguel e incentivada por uma proposta que daria mais qualidade de vida a sua família, Sirlei mudou-se com os filhos para Santa Maria para trabalhar como empregada doméstica. Hoje, ela colhe os frutos do seu esforço.
– É como se estivéssemos realizando um segundo sonho – comentou dona Sirlei, referindo-se à primeira participação de Maria em Olimpíada, em 2012.
Valorização de projetos sociais
A conquista de Maria e de Gilvan é como um alerta aos poderes público e privado. Maria, inclusive, faz um apelo para que futuros potenciais no esporte, principalmente os que surgem de projetos sociais, não sejam ignorados:
– Que os poderes público e privado prestem mais atenção aos projetos sociais. Nós conseguimos driblar os problemas. Que não se percam novos talentos. Como nós, podem ter muitos outros. É uma vitória para Santa Maria. Fiquei muito contente pelo Gilvan também. Sei o quanto ele batalha e das dificuldades que ele enfrenta. É importante valorizarmos esses feitos – pede a judoca.
O PROJETO MÃOS DADAS
- Qualquer pessoa, a partir dois quatro anos, pode participar em categorias masculina e feminina
- Telefone – (55) 9992-4908
- Facebook – Santa Maria Judô
- Site – judogaucho.com.br