Há quatro anos, Franck Rebello empreendeu o saudável desafio de se tornar um triatleta. Seus amigos logo duvidaram. Afinal, o diretor de vídeos era um típico sedentário e vivia sérias ameaças de saúde em consequência dos seus 135 quilos distribuídos em 1m79cm. Três anos depois de caminhadas, corridas, natação, ciclismo e acompanhamento nutricional, Franck perdeu 50 quilos e surpreendeu os amigos ao encarar um Ironman (um supertriatlo, com 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42,195 quilômetros de corrida) e se tornar um aficionado competidor.
Em retribuição à vida presenteada pelo esporte, Rebello criou o projeto "Correr em Dois" com o qual vai participar da 33ª Maratona de Porto Alegre deste domingo conduzindo na cadeira de rodas o garoto Adler Moutinho, oito anos. A prova é a meia maratona, de 21 quilômetros.
– Queria proporcionar o prazer de uma corrida a quem não tem condições de correr – justificou Rebello.
O menino nasceu com paralisia cerebral, que lhe afetou os movimentos da cintura para baixo. Já evoluiu muito em tratamento na AACD de Porto Alegre e hoje caminha pequenas distâncias com auxílio de muletas e se locomove sozinho na casa onde mora, em São Sebastião do Caí. Entre o estudo do Terceiro Ano Fundamental da Escola Alberto Pasqualini e o inseparável videogame, Adler vive nos últimos dias a expectativa da corrida deste domingo, com largada às 7h na Avenida Augusto de Carvalho, junto ao Parque Maurício Sirotsky Sobrinho.
– Estou um pouco ansioso, quero ver como é. Acho que vai ser muito bom – diz o menino.
Além de participar da corrida, o sonho adicional do garoto é passar pelo Beira-Rio. Colorado, Adler já entrou com cadeira de rodas no gramado do estádio durante o evento "Lance de Craque", promovido por D'Alessandro, e se tornou amigo do centroavante Rafael Moura. É a sua chance de voltar às proximidades do local de que possui as melhores lembranças:
– A gente vai passar lá na frente, não é?
Rebello já tinha a ideia e se convenceu da possibilidade de conduzir por 21 quilômetros uma criança em uma cadeira de rodas quando viu iniciativa semelhante feita por um grupo nacional chamado Pernas de Aluguel:
– Imagina cruzar essa sensação de correr? Montei um projeto pensando nisso. Mas tomei todo o cuidado possível. Tinha de ter certeza de que era possível fazer a meia maratona.
O projeto acabou traçando uma rede solidária. Uma empresa de consertos de bicicletas adaptou a cadeira de rodas de Adler para deixá-la em condições de executar o percurso de 21 quilômetros, uma outra providenciou a estada em hotel, para que o menino se hospede com os pais Naiara e Alexandre na noite de sábado para domingo e esteja em condições de largar logo cedo, e outras duas empresas se responsabilizaram pelo uniforme e pela alimentação. No último sábado, Rabello e Adler treinaram a parceria em São Sebastião do Caí e deu tudo certo.
A ideia pode se repetir em outros anos. Mas, depois da Maratona, Rebello já pensa em realizar a prova de triatlo em Springfield, Ohio, nos Estados Unidos, em 24 de julho. Seus compromissos se tornaram os de um esportista de alto rendimento. Nem seus amigos se surpreendem mais. Já o garoto Adler terá muito o que contar na escola ou no futsal do pai durante a semana. Depois do jogos de Alexandre, Adler entra na quadra e chuta a bola, com ou sem muleta, cai, volta a chutar, e assim se diverte.
ENTRANDO NUMA FRIA
– A manhã deste domingo promete ser gelada. A previsão é de mínima de 3ºC em Porto Alegre, e a temperatura não deve ultrapassar a marca de 13ºC.
Corredor nas horas extras, o colunista Tulio Milman dá dica para enfrentar o frio na prova: zhora.co/maratonanofrio
*ZHESPORTES