Filho mais ilustre da comunidade de São Braz, no interior de Caxias do Sul, Adenor Leonardo Bachi, o Tite, nasceu dentro de um ambiente que inspirava a busca do conhecimento e cercado pela fé, justamente os dois preceitos principais em sua trajetória de sucesso. A origem humilde do novo técnico da Seleção Brasileira formou o caráter daquele em que a nação inteira confia a missão de resgatar o prestígio da camisa mais vitoriosa do futebol mundial.
– O Ade nasceu dentro da Escola Estadual Lobo da Costa, numa casinha de madeira com três peças que ficava nas dependências do colégio, e ao lado da Igreja de São Braz. Hoje, é o salão de festas da comunidade. Não tem mais a casinha e nem a escola, que agora está do outro lado da rua. A igreja da época foi demolida e depois foi construída a atual no mesmo lugar – conta Idalino Graciano Mazzochi, 70 anos, primo-irmão de dona Ivone Mazzochi Bachi, 80, a mãe de Tite.
Em homenagem ao santo curador das doenças de garganta e religioso que foi perseguido pelo império romano, os primeiros imigrantes italianos batizaram a localidade de São Braz no início do século passado. Entre eles, as famílias Mazzochi, Bachi e Palandi. Genor Bachi e Ivone Mazzochi casaram-se em 19 de outubro de 1957. O casal passou a morar ao lado da igreja e Adenor nasceu na casa de madeira em 25 de maio de 1961, com a ajuda das nonas e parteiras Maria Mazzochi e Agatha Bachi.
– O Tite ainda é conhecido aqui na comunidade por Ade. Morou em São Braz até uns dois ou três anos de idade, mas depois vinha para cá aos finais de semana para jogar no Juvenil até ir para o Caxias, com 15 ou 16 anos. O apelido veio lá da cidade, depois que a família foi morar na Rua Sinimbu, no bairro Lourdes – lembra Idalino, que hoje tem um restaurante em São Braz e cultiva frutas, como maçã e pêssego.
Os primeiros passos de Ade no futebol foram no campinho do Esporte Clube Juvenil, fundado em 1930 e que tem Idalino como o maior goleador de todos os tempos. Genor, pai de Tite e falecido em 2009, também é um dos principais craques do time amador, tradicional na Copa União de Clubes, com diversas conquistas.
Meia alto, franzino e habilidoso, Tite marcou seu primeiro gol pela equipe suplente em 1974, nos 3 a 0 sobre o Bangu, ano em que os suplentes do Juvenil foram campeões da categoria. E atuava ao lado do pai Genor, que era técnico do primeiro quadro e volante no segundo time.
– Quando o Genor jogava, eu era o técnico desse time do Tite no segundo quadro. Posso dizer que fui o primeiro técnico dele. Depois, com 14 ou 15 anos, ele passou a entrar nos titulares e cheguei a jogar ao lado dele. O Genor colocava o Tite no segundo tempo e ficava de olho para que os grandões não o machucassem – recorda Idalino.
Ali, Tite era protegido pelo pai e pela família inteira dos Mazzochi, a maioria dos moradores da comunidade, e dos Bachi. Todos pareciam pressentir que em 2016 ele se tornaria o responsável pelo maior patrimônio do futebol nacional: a Seleção Brasileira, pentacampeã mundial.
Nomes de origem italiana
O sobrenome italiano Bachi dos antepassados de Tite, por parte de pai, eram escritos com duplo c: ou seja, Bacchi. Assim como Mazzocchi, da mãe. A grafia foi mudando a cada geração.
O nome da comunidade de São Braz (de origem italiana) também é grafado de várias maneiras, como São Brás (em português) e São Bráz (meio português e meio italiano).
Na localidade de cerca de 700 habitantes, as placas oficiais indicam São Braz, no italiano correto, mas no salão de festas ao lado da igreja ainda está escrito São Bráz.