Uma lógica célebre do mundo esportivo foi criada por Paulo Roberto Falcão: o atleta morre duas vezes. Primeiro, quando se aposenta. Segundo, quando morre de fato. Mas chega um momento na carreira do esportista em que a primeira morte pode fazer mais sentido do que estender um sofrimento desnecessário. Saber a hora ideal de dizer que acabou é um dom que poucos têm. E Anderson Silva precisa começar a pensar.
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É claro que o amor de um atleta pelo seu esporte pesa contra a decisão de parar. E é claro que se desapegar de algo que você fez a vida toda não é simples, sobretudo quando é algo prazeroso e muito rentável. Mas alguns milhões de dólares para quem já tem muitos milhões de dólares não valem o risco de manchar um legado.
Anderson Silva tem 41 anos. Nos últimos três, passou por uma sequência de problemas físicos e psicológicos que nunca havia experimentado ao longo da vitoriosa carreira. Tudo isso, talvez, por não ter entendido o momento certo de morrer pela primeira vez. Quando derrotou Chael Sonnen na revanche em julho de 2012, Spider chegou ao ápice. Sua condição como melhor lutador de MMA de todos os tempos era quase indiscutível. À medida que estende a carreira de forma desnecessária, Anderson não ganhará nada maior do que já ganhou. Pelo contrário, encherá de argumentos aqueles que o contestam.
Desde então, ele ainda teve uma vitória pouco representativa sobre Stephan Bonnar. Depois, uma sequência de momentos negativos na carreira. Derrota para Chris Weidman e perda do cinturão, nova derrota para Weidman com a fratura na perna, vitória sobre Nick Diaz revertida para luta sem resultado e suspensão de um ano por doping, derrota para um mediano Michael Bisping. A chance da recuperação, que seria contra Uriah Hall no UFC 198, na Curitiba em que foi criado e nasceu para as artes marciais, foi interrompida pelo diagnóstico de colecistite aguda, uma inflamação da vesícula biliar. Em três anos, Anderson passou por mais problemas dentro e fora do octógono do que qualquer um poderia esperar. E será que ele precisa de tudo isso?
Outro nome na discussão sobre o melhor de todos os tempos é o canadense Georges St. Pierre. Decidiu parar de lutar – ou pelo menos abandonar o cinturão dos meio-médios e dar um tempo nas competições – com 32 anos, 12 vitórias consecutivas e o título.
É compreensível que Anderson Silva queira seguir a fazer o que ama. Mas seguir só para colocar pontos negativos em uma carreira que praticamente só teve pontos positivos é um anti-clímax para um lutador que ganhou tudo o que sempre quis.
*ZHESPORTES