O futebol é apaixonante por sua imprevisibilidade, é verdade, mas certas sentenças deste esporte são claras como o sorriso de Paolla Oliveira. Uma equipe jamais sairá campeã de uma Copa Libertadores tendo, como capitão, um carioca de fala mansa que considera "desumano" jogar futebol duas vezes por semana.
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Estará mais longe do título ainda, esta mesma equipe, se o seu treinador for do tipo que assiste a seu time sofrer uma vexatória goleada com cara de consternação, mantendo convicções que acumularam fracassos diante de adversários difíceis, como este esquema 4-2-3-1 que gourmetizou o sempre copeiro futebol gremista. Se este mesmo time for comandado por um executivo de futebol de expressão amável, com suéteres franceses e mãos nos bolsos na hora da derrota, o desfecho negativo será uma certeza. Mas se somadas a todas estas tragédias esportivas os seus laterais forem Marcelo Hermes e Ramiro, esqueçam, nenhum título estará ao alcance de sua sôfrega torcida.
O futebol é um território hostil, perigoso e cheio de percalços, e Argel Fucks sabe disso. Ao intervalo do segundo jogo da final do Gauchão, quando o Inter já acumulava dois gols de vantagem sobre o Juventude no placar combinado, colegas da imprensa relataram os gritos de motivação do técnico colorado que ecoavam pelos subterrâneos do Gigante da Beira-Rio e incendiavam os brios dos jogadores colorados. O Inter não tem uma equipe superior à do Grêmio, não nos enganemos: tem um comando de vestiário mais obcecado pela vitória.
Ao erguer a taça de campeão gaúcho diante de sua torcida, Argel lembrou que já dormira sob aquelas arquibancadas sonhando com um futuro melhor e pleno de conquistas em sua época de jogador da base. E com atletas valentes como ele, que não temem jogar futebol duas vezes por semana, como Sasha, Fabinho e Paulão, Argel montou um esquema de jogo sólido, consistente e sóbrio, fez um time que sabe exatamente até onde pode ir e melhor ainda onde quer chegar.
Roger Machado é dicionário, Argel Fucks é vocabulário reduzido. Roger é estudo, Argel é transpiração. Roger é brioches, Argel é pão da colônia. Roger é Europa, Argel, Gauchão. Trate seus soldados como irmãos e eles lutarão por você; trate-os como filhos e eles morrerão por você. Argel Fucks é Napoleão Bonaparte, Roger é Madre Teresa de Calcutá. O melhor é sempre aquele que vence: Argel é, hoje, melhor do que Roger.
*ZHESPORTES