Com 15 anos de experiência à frente das matérias especializadas em motociclismo no programa Auto Esporte, levado ao ar nas manhãs de domingo pela Rede Globo, o paulista Leandro Mello entende que o motociclismo de competição do Brasil levou um tombo da crise. E muito feio. Na noite desta quinta-feira, o piloto e apresentador deu uma palestra na loja M3 Parts, em Caxias do Sul.
– Se olhar para dois anos atrás, estávamos vivendo um sonho. Agora, estamos voltando ao pesadelo – disse Mello.
O piloto, que trocou as pistas de prova em 2002, após um título na Superbike, pelas de teste, deu palestra a respeito de condução segura sobre duas rodas. Atualmente, também dirige a escola de pilotagem Motors Company, em São Paulo, e há mais de 10 anos atua com o Instituto Mauá no desenvolvimento de produtos para motociclismo, como novos tipos de óleos e pneus.
– O off-road sempre foi muito forte no país. Isso, de certa forma, ainda se mantém. Já a motovelocidade, até cinco anos atrás, era inexpressiva. Depois, vivemos o que se pode chamar de Era de Ouro, com pilotos brasileiros competindo lá fora, andando forte, e os melhores do mundo vindo disputar provas aqui. Com a crise, isso acabou. Estamos voltando ao nível que tínhamos pré-anos 1970 – avaliou.
Mello ainda comentou sobre dois momentos raros, mesmo para os mais tarimbados pilotos nacionais, permitidos com a experiência nas competições e na mídia. Há cerca de três anos, com o objetivo de gravar matérias para o Auto Esporte, dividiu a pista por duas vezes com o multicampeão italiano – e uma das lendas da modalidade – Valentino Rossi.
– Em São Paulo, resolvi surpreendê-lo com um ajuste especial de pneus. E quem anda de moto, sabe que pneu e freio são mais importantes que potência de motor. Foi uma jogada arriscada, porque ele podia não gostar. Mas quando ele tirou o capacete, depois das primeiras voltas, tinha um sorriso de orelha à orelha. Estava muito feliz e à vontade. O combinado era fazer apenas cinco voltas, mas ele acabou andando 20 minutos sem parar –revelou o brasileiro.
Depois de um breve intervalo para atender os pedidos de fotos e matar a sede, o italiano quis voltar à pista.
– Ele ensinou muito sobre aproveitamento da moto no ponto certo, suavidade na condução e como evitar riscos. Ele tem uma filosofia própria de pilotagem, com calma, tranquilidade, sem "brigar" com a moto – recordou.
O outro privilégio vivido por Mello foi o de ser o único piloto brasileiro convidado a testar a moto-conceito H2R, desenvolvida pela Kawasaki, no Catar. A mesma que está em exposição na loja M3 Parts, em Caxias do Sul, desde esta quinta-feira. Trata-se do único exemplar no Brasil. Custa R$ 350 mil.
– Ela tem um conceito que me agrada muito e deveria ser aplicado a todas as motos. A eletrônica ultramoderna doma e aproveita melhor um motor pequeno com potência absurda. Para a potência que tem, ela é dócil, com uma frenagem mais potente e progressiva. O freio é forte, sem ser estúpido – avaliou.
No teste, Mello conduziu os 326 cavalos do motor 998cc Supercharger a 322 km/h.
– Mas eu estava com uma câmera, no corpo, e atrapalhou um pouco. Teve gente que fez mais de 340 km/h.