Ainda estou impressionado com o lance mágico proporcionado pelo meia Hugo, do Juventude, na partida do último domingo contra o Grêmio, na Arena. Ao receber um lançamento próximo à linha de fundo, pertinho da bandeira de escanteio, não teve dúvida: aplicou um chapéu no atacante Bobô, dominou e cruzou para área. A jogada terminou em gol do time de Caxias. Mas o que ficou marcado na retina foi o balãozinho de Hugo.
Por que o lance chama a atenção? Por causa da dificuldade na construção, da habilidade e da ousadia. Recordemos: a bola vem rente à grama, e Hugo encobre o jogador gremista com um leve toque. O balãozinho continua a ser o drible mais bonito do futebol.
Está bem. Tem a janelinha, também chamada de caneta – essas de rolinho são estonteantes. Tem a meia-lua, o drible da vaca, rara nos dias de hoje. As pedaladas são legais. Sempre lembro do Robinho, do Santos, cruzando as pernas diante do incrédulo lateral Rogério, do Corinthians, em 2002. Mas ficaram comuns, qualquer um pedala.
Não dá para esquecer do elástico, imortalizado na canhotinha de Rivellino. Alguns poderão cobrar: e a bicicleta? Falo de dribles. Bicicleta é uma jogada espetacular.
Como drible, o balãozinho é o que ainda mais encanta, mais arranca aplausos, mais faz a torcida se divertir. É também o que mais irrita e humilha o adversário. O Nílson Souza, colega aqui da ZH, lembra que o Falcão tirou Iura do sério – e isso não era difícil – em um Gre-Nal dos anos 1970. Falcão aplicou um daqueles de pentear o cabelo. Sangue quente, o número 8 do Grêmio partiu para cima do craque do Inter.
– Gostava de dar chapéu, claro. Mas o Rei dos balãozinhos era o Bráulio (ex-volante do Inter nos anos 1970) – recorda o atual técnico do Sport.
Lembro de outro balãozinho marcante para os gaúchos. Foi no Gre-Nal em que o então menino Ronaldinho enlouqueceu o experiente Dunga com dois dribles fantásticos no clássico de 1999. Primeiro um elástico diferente, lance em que a bola parecia grudada no pé com Superbonder. E, depois, um chapéu, com a marca de um craque abusado.
Para quem gosta chapéus, o gol de Vivinho, um atacante do Vasco da Gama dos anos 1980, é imperdível. Está lá na internet: no jogo Vasco x Portuguesa, ele deu três balõezinhos consecutivos antes de mandar às redes.
O lance ganhou placa no São Januário. E que tal um chapéu de calcanhar? Marcelinho Carioca, o meia do Corinthians, nos brindou com uma pintura contra o Santos em 1996.
Mas nada pode superar o gol feito por Pelé em 1959, Juventus 2x4 Santos. Não há imagens, mas o filme Pelé Eterno há uma montagem do lance: são quatro chapéus consecutivos. Até o goleiro entrou na roda. Uma loucura.
Chapéus, canetas, meias-luas e elásticos. Molecagens que fazem bem à alma do futebol.