Vejo as críticas ao Argel com uma ponta de frustração pois o considero apenas mais uma vítima dos desmandos de uma direção perdida, atrapalhada, que não tem planejamento e que não sabe de onde veio nem para onde vai. O ano do Inter tende a ser trágico e carece de reflexão por parte de todos antes que seja tarde.
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A culpa de o Inter ter atuações irregulares, medíocres e insatisfatórias é mesmo só do Argel? É claro que ele é o comandante. Ele é o responsável pelos treinamentos táticos e técnicos, mas só ele mesmo é o culpado? Será? Não é muito fácil jogar a culpa em cima de um profissional honesto, mas que não tem estofo nem perfil para treinar o Inter? Não lhes parece demasiado injusto? A reflexão que convido a ser feita é: quem é o Inter?
Explico. O Inter sempre teve como concepção histórica de futebol equipes acadêmicas, de toque de bola, de qualidade no meio-campo e, por vezes, faceira e até irresponsável, vide Abel e seu mantra "pra dentro deles". Lembro do Rolo Compressor, do nosso escrete mágico dos anos 1970 e até mesmo dos times fracos dos anos 1980 e 1990, mas que, apesar da limitação técnica cristalina, sempre tiveram ousadia e jogava em um 4-3-3 corajoso, fazendo frente e chegando a finais contra o Flamengo de Zico, Bebeto, Renato e cia.
Como chegávamos tão perto com times tão medíocres? Simples: respeitávamos a origem do Inter. Tínhamos um norte. Hoje o que impera no Inter do Argel é o futebol força. Jogando com dois cabeças de área desnecessariamente, a filosofia implementada pelo nosso treinador é a antítese do que historicamente nossa torcida se acostumou a ver e adora. Daí o motivo de tanta cara feia para o trabalho do atual treinador.
Como ilustração deste respeito às origens do clube, cito o Grêmio. O atual treinador tricolor tenta implementar um futebol acadêmico, bem jogado, bonito, faceiro. Mas qual é a cultura do coirmão? Um futebol de pegada, força, marcação e bola aérea. Esta é a filosofia histórica do Grêmio. Por esta ótica, o Argel estaria muito mais para o Grêmio e o Roger muito mais para nós. Mas isto é somente elucubração.
O que interessa é que, ao fim e ao cabo, a culpa não é do Argel. E sim de quem o trouxe. Ele não tem a filosofia compatível com o que o Inter precisa, com o que pulsa no DNA do clube. Ele é o cara errado na hora errada. Lembro que a filosofia de futebol do Inter tem que ser levada em consideração como elemento balizador na busca e contratação de um treinador. É preciso traçar um perfil que seja condizente com a filosofia existente no clube. Isso nunca foi feito. O Inter vive de momentos episódicos após 2006. Desde aquela época nunca mais soubemos porque ganhamos e porque perdemos. É preciso repensar o nosso futebol, antes que joguemos mais um ano no lixo.
*ZEROHORA