São muitas as "lutas do século" no boxe. Um duelo que está sempre em qualquer lista dos melhores é o primeiro entre Muhammad Ali e Joe Frazier, em 8 de março de 1971. Com Frank Sinatra como fotógrafo da revista Life, juntamente com 20.748 espectadores, que deixaram US$ 1.053.688,00 nas bilheterias, o lendário ginásio do Madison Square Garden estava quente, apesar do intenso frio do lado de fora nas ruas de Nova York.
Os dois pugilistas estavam em grande forma e invictos. Frazier, o campeão, somava 26 vitórias, com 23 nocautes, aos 27 anos. Ali, com 29 anos, tinha 31 triunfos, com 25 nocautes. Para cada um, uma bolsa recorde: US$ 2,5 milhões. Para muitos críticos, a luta estava três anos atrasada. Tempo em que Ali ficou de fora dos ringues por ter se negado a integrar o exército norte-americano na Guerra do Vietnã. Mas Frazier e Ali se superaram. Colocaram em prática o que havia de melhor na técnica e no físico.
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Resultado: 45 minutos de um combate intenso, honesto, sem agarrões ou golpes irregulares. O atarracado Frazier, de 1m82cm e 93 quilos, não deu um passo para trás durante todo o tempo. Com cruzados de esquerda violentos e muito bem direcionados, acertou por dezenas de vezes o lado esquerdo do queixo de Ali. Ao contrário do campeão, o desafiante, de 1m90cm e 97 quilos, que buscava a reconquista do título pela primeira vez, lutou quase que o tempo todo encostado nas cordas. Nos contra-ataques e com uma esquiva abusada. Ali utilizou o jab de esquerda amplamente e acertou de forma cirúrgica o rosto de Frazier, que inchava a cada round. O direto de direita também explodiu por inúmeras vezes.
O ritmo da luta era alucinante, mas sem agarrões, o que transformou o lendário juiz Arthur Mercante em um espectador privilegiado. Ele só foi requisitado nos finais dos rounds para separar os pugilistas, que insistiam em trocar socos.
A cada golpe, o público festejou como se fosse um gol. E o principal momento ocorreu no 14º round, quando o cruzado de esquerda de Frazier acertou em cheio o queixo de Ali, que foi à lona. Determinado, levantou, sofreu castigo, mas se manteve em pé para perder por pontos, em decisão unânime dos jurados, que determinavam o vencedor de cada round: 9 a 6, 11 a 4 e 8 a 6 (com um empate) deixaram Frazier com o cinturão de campeão.
Ele teve o braço levantado por Mercante, mas, com problemas de hipertensão e infecção renal, passou vários dias internado no hospital. Ali também teve de se submeter a um raio X no queixo, mas nada de mais grave foi constatado.
– Eu venci a luta. Quero revanche – disse Ali, sempre falastrão.
– Todas as vezes que em lutar com ele, irei vencer – devolveu Frazier, que seguiu campeão até 1973, quando foi massacrado por George Foreman.
Os dois voltaram a lutar mais duas vezes. Em 1974, em uma eliminatória, Ali venceu por pontos e se credenciou para encarar Foreman. Em 1975, em Manila, em um duelo memorável (para muitos o maior da história), Ali voltou a vencer, desta vez por nocaute técnico no 14º assalto.
Frazier, depois de Foreman, nunca mais voltou a ser campeão. Fez sua última luta em 1981. Mesmo ano de Ali, que se sagrou campeão mais duas vezes. Em 1974, diante de Foreman, no Zaire, e em 1978, ao bater Leon Spinks.