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Márcio Rodrigues, o Magrão, deixou o futebol profissional, mas ainda quer provar. Desta vez, não para comissões técnicas ou para a sempre crítica voz da arquibancada. Tenta vencer a si mesmo, aos 37 anos. A desconfiança que, segundo ele, todo o jogador de futebol que encerra a carreira leva nas costas: um ser humano burro, ignorante, fácil de ser passado para trás e sem nenhum intelecto.
Os anos defendendo a Seleção, São Caetano, Palmeiras, Corinthians, Yokohama Marinos, Inter, Al Wahda, Dubai, Náutico, América-MG e Novo Hamburgo lhe deram a experiência para tratar sobre a bola, questões táticas, técnicas. Após oito meses como empresário da bola, sócio do argentino Juan Ignácio Piedra na JMidfield Football Intermediaries & Sport Management, tem aprendido a outra língua do futebol: a dos papeis, contratos, números, transações.
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São meses de negócios. Neste período, levou o são paulino Denilson para seu ex-clube, o Al Wahda, intermediou a ida de Nilmar para o Al-Nassr, de Dubai, e está prestes a desenvolver um trabalho com categorias de base em uma parceria inédita no Brasil.
-Fui atrás de sonhos e conquistei muito mais do que eu imaginava. O futebol me deu muito, culturalmente. Eu comecei tentando levar os melhor para meus pais. Hoje, faço para os meus filhos. Esse é o resumo de tudo. Mas agora é muito mais pessoal do que profissional. Quero provar que jogador não é burro, que pode ir muito além do futebol --resume Márcio, o Magrão.
Confira a entrevista:
O fato de você ter jogado nos Emirados facilita tua nova atividade?
O Juan tem o mercado. Claro que eu sou conhecido, mas sou um ex-jogador tentando provar que posso ser um empresário. Todo mundo diz que eu sou a referência lá. Que os volantes passaram a ser vistos de outra forma depois que fui jogar lá. Antes só queriam meias e atacantes.
Você conhece a cultura, a forma como eles trabalham.
Sempre na minha vida eu fiquei perto de referências, de pessoas que pudessem me ajudar. Quando cheguei no Palmeiras, me encostei no Arce, no Marcos, no César Sampaio. Em muitas vezes, nas reuniões, falo pouco, fico apenas observando. Claro, quando chega a parte de campo, daí falo para caramba. Todo mundo sempre me dizia que eu seria técnico, porque eu gosto de entender os porquês das coisas. O motivo de eu ter de fazer tal coisa, de treinar tal atividade. Está sendo assim como empresário, também.
Por que criar uma empresa? Por que não ser apenas intermediário, um agente?
Cheguei no Palmeiras e queria ter o carro top, o melhor carro. O jogador se deslumbra. Eu quero fazer um gerenciamento de carreira para os jogadores que venham a fazer negócio com a gente. O que eu não tive. Direcionar os jogadores para investimentos ou até mesmo uma simples poupança. É um trabalho até mesmo de cunho social.
O mercado mudou muito de sua época para cá?
Antes o Oriente Médio era para encerrar carreira, para se ter o último contrato. A visão deles de mercado mudou. Eles têm poder, claro. Às vezes, você faz negócios de três minutos. Eles te testam muito. Querem saber se você é honesto, se pode ser confiável. Eles gostam muito do futebol. Pode não ter muita gente nos estádios, mas estão em casa, assistindo aos jogos, cuidando repercussão em redes sociais.
E por que não lota o estádio lá?
Nos Emirados, em clássicos, o estádio está lotado. Catar e Arábia Saudita os estádios estão sempre cheios. Mas o problema é que a população, em sua maioria, é de estrangeiros, estudantes. Não tem vínculo com o clube, ninguém coloca coração na coisa. Esse é o pior. Nilmar (ex-atacante do Inter que joga no Al-Nassr, de Dubai) achou incrível a cobrança, a pressão da torcida, vaia.
A Copa no Catar pode impulsionar o futebol na região?
A cultura do futebol nos Emirados têm evoluído muito. Eles estão preocupados com a base, com a formação do jogador. Claro que ainda querem contratar Éverton Ribeiro, Nilmar, Thiago Neves, Denílson. Eles querem dar qualidade para o futebol. Não apenas trazer o jogador por trazer, para ostentar. O ídolo vai ter de jogar. Foram para a Olimpíada com um grupo muito bom. Foram campeões da Copa do Golfo. Chegaram à semifinal da Copa da Ásia. Eles estão reforçando a mentalidade do futebol.
Que te parece o mercado chinês?
Há muito tempo a China tem trabalhado com a base. Eles estão abrindo escolas. Chamou atenção agora, pelas contratações que fizeram. Tem tudo para se transformar em uma potência do mundo, principalmente pela disciplina que eles têm. Falta a eles o coração que os Sul-Americanos têm. Eles têm um programa muito bem definido, meta. Suporte para o futebol, há. Mas falta coração.