Crise moral e técnica na entidade-mãe do nosso futebol, federações estaduais, unidas apenas para a manutenção do poder, clubes com sérios problemas financeiros, empresas se afastando do segmento, torcedores com receio de frequentar os estádios, além, é claro, da perda da identidade de país do futebol que tanto nos orgulhamos. Mas a dúvida é: "o que queremos para o nosso futebol?"
De acordo com a última edição do estudo da BDO de Valor das Marcas e Finanças dos Clubes Brasileiros, os 24 maiores clubes do país apresentaram um endividamento líquido de mais de R$ 6 bilhões, sendo mais de R$4 bilhões em tributos. E não parece que paramos de cavar o buraco, já que nos últimos cinco anos esses mesmos clubes apresentaram déficit de mais de R$1,5 bilhão no consolidado.
Segmento sem regulação, entidades sem fins lucrativos e ausência de responsabilidade dos dirigentes formam um tripé extremamente preocupante. Como já disse William Thomson no século 19, "Aquilo que não se pode medir, não se pode melhorar".
No meio dessa desorganização estruturada, os clubes brasileiros estão perdendo seus torcedores e suas receitas para o Barcelona, Chelsea, Bayern, Manchester, Real Madrid, que possuem um produto mais desenvolvido e internacionalizado do que o nosso.
Já passou do momento de apresentarmos um diagnóstico mais profundo e mobilizarmos toda a comunidade ligada direta e indiretamente ao futebol sobre a responsabilidade social e educacional dos clubes, de criar incentivos para os clubes formadores de cidadãos e de resgatar a credibilidade de todo o segmento no país.
Alguns projetos parecem trazer soluções, como a Primeira Liga, o Bom Senso FC, a Atletas pelo Brasil ou até mesmo as contrapartidas que a APFUT impõe para a manutenção do refinanciamento das dívidas tributárias. Entretanto o problema não é pontual, muito menos pessoal, mas sim estrutural.
O futebol brasileiro tem uma ótima oportunidade para, a exemplo da Alemanha, prematuramente eliminada na Eurocopa 2000, utilizar uma tragédia esportiva para mudar o rumo do esporte. Só a história dirá se o 7 a 1 foi a luz necessária para a profissionalização da gestão do futebol brasileiro.