O amor não acabou, mas a relação entre Talitha Haas e os patins terminou. E não foi por opção da principal atleta brasileira da patinação artística.
O rompimento se deu pela falta de escolhas para a gaúcha de 21 anos. Nascida em Novo Hamburgo, Talitha já sabia havia algum tempo que, por maior que fosse sua dedicação, em algum momento da vida não conseguiria conciliar a rotina de até três treinos diários com os estudos - cursa o oitavo semestre de engenharia química na Feevale, em sua cidade natal. Contou também a falta de perspectivas de viver da patinação. Como o esporte não é olímpico, os estímulos públicos e privados são escassos.
- É muito difícil viver desse esporte no Brasil. Quase impossível. Por mais que seja apaixonada pela patinação e pudesse competir por mais alguns anos em alto nível, não tive alternativas - conta.
Esse sentimento pelos patins despertou quando Talitha tinha só sete anos e se iniciou como uma brincadeira. Mas ele cresceu e se tornou uma relação séria e estável, que tomou parte da infância e adolescência da atleta.
- Enquanto minhas amigas iam para casa brincar ou faziam a festas, eu ficava em ginásio treinando. Não lamento, foi escolha minha. O esporte me deu valores muito bons, como a disciplina e a dedicação - lembra.
Melhor do Brasil
Esses princípios não foram os únicos filhos da relação de quase 14 anos de Talitha com a patinação. A coleção de medalhas e troféus são a parte mais visível. Os prêmios conquistados tapam quase toda a parede do quarto no apartamento em que mora com os pais, Maurício e Nádia. Alguns são expressivos e únicos até hoje para a patinação artística brasileira. A gaúcha é a única que participou de dois Pan-Americanos. Em Guadalajara/2011, foi bronze. Em Toronto/2015, ficou com a prata. Ela também se orgulha do bronze no Mundial de 2009, na Alemanha, na categoria Júnior.
Mesmo com todos esses resultados, a atleta nunca teve estímulo financeiro para fazer o que ama. Recebeu Bolsa Atleta por três anos, mas o benefício estava condicionado a resultados em competições internacionais com representação de, no mínimo, seis países.
- Em 2014, o principal torneio que poderia disputar era o Sul-Americano. Fui vice-campeã, mas como não tinha o número mínimo de países, perdi o Bolsa Atleta durante todo o 2015. Foi duro - relata.
O estímulo dado pelo governo federal, além de único oriundo do Poder Público, era pouco. Os cerca de R$ 1,8 mil que recebia mal davam para pagar a treinadora, a mensalidade do clube onde treinava e as roupas. De patrocínio privado conseguiu somente os patins e as rodinhas. Os valores mais altos, como as viagens para campeonatos, eram investidos pela família. Foram os pais de Talitha que deram um jeito de pagar passagens, hospedagem e alimentação para a filha representar o Brasil na China, na Nova Zelândia, na Espanha, em Portugal e na Colômbia.
- Sou muito grata a eles por tudo que fizeram por mim. Sempre me incentivaram a estar no esporte e deram um jeito para que fizesse o que gostasse. Eles ficaram um pouco triste com a minha decisão de parar, mas no futuro entenderão que foi o melhor para mim - diz Talitha.