Jeferson da Silva dos Santos, o Vefo, mora em Alvorada, mas todos os dias se desloca para Porto Alegre, onde trabalha. Das 8h às 12h e das 13h30min às 18h, se dedica a consertar furadeiras, parafusadeiras e marteletes. Ao retornar para casa, o tempo para descanso é curto, pelo menos nas terças, quintas e sextas-feiras.
Nesses dias, o técnico em ferramentas elétricas vira ídolo do futsal. É ele quem comanda em quadra a Ser Alvorada, que está a um jogo de subir para a Série Prata, a segunda divisão do Estadual de Futsal. No sábado, em casa, a Ser Alvorada ficou no 3 a 3 com o Sase, de Selbach, no jogo de ida pela semifinal da Série Bronze.
Aos 34 anos, Vefo é capitão e goleador da equipe, com 19 gols. No futsal, é rodado. Já jogou várias vezes a Série Prata e também a Ouro, a elite do Estadual. Mas, pela primeira vez, defende um time de sua cidade.
- Alvorada nunca teve nada, nem ginásio adequado. Esse projeto da Ser é importante, principalmente, para as crianças. Elas ganharam a oportunidade de assistir aos jogos e podem se espelhar. Ser reconhecido na sua cidade é gratificante - destaca o capitão.
A Ser Alvorada surgiu no começo deste ano, a partir da fusão de seis equipes locais. Os dirigentes perceberam que, separados, seus times faltava força necessária para encarar o Estadual. A partir daí, passaram a bater de porta em porta em busca de apoios para a nova equipe.
- O discurso era mudar o perfil da cidade. Só tinha notícias ruins de Alvorada, queríamos mudar o histórico. Buscamos parceiros que tivessem a mesma visão - explica o presidente do clube, o industriário Nélio Oliveira.
A Escola e Faculdade São Marcos fez mais do que ceder o ginásio. Reformou-o e o deixou capacitado para abrigar a Série Bronze. A empresa de ônibus Soul disponibiliza o transporte - e isso gerou economia de R$ 22 mil ao time durante o campeonato.
- Sempre pensamos em algo que não dependesse (da verba) do município - enfatiza Nélio.
Mais de 70% dos custos do clube são bancados pelos dirigentes. O restante é obtido com o apoio de empresas locais.
Jogadores da casa
Dos 14 atletas do grupo, dez são de Alvorada. Essa foi uma preocupação da diretoria, que pretendia ter um grupo identificado com a cidade. Cerca de 80% dos jogadores fazem jornada tripla: trabalham pela manhã e à tarde e treinam à noite. A equipe, com atletas dos 18 aos 34 anos, tem metalúrgico, instalador de TV a cabo e encarregado de manutenção predial, entre outras profissões. Para ajudar nas despesas com deslocamento para os treinos, recebem ajuda de custo.
- Nos treinos, eles se doam ao máximo. Estão querendo, até porque proporcionamos estrutura que não pensavam contar em Alvorada - diz o presidente da Ser, Nélio Oliveira.
Casa cheia
Com capacidade para 650 pessoas, o Ginásio da Escola e Faculdade São Marcos tem lotado nos últimos jogos. Na decisão pela vaga na semifinal, contra o Torino, de Caxias, faltou lugar.
- Para nossa surpresa, a participação da comunidade é muito positiva. Ficamos duas semanas sem jogar, e o pessoal nos abordava na rua e falava que estava acostumado a vir, que sentia falta - revela Nélio Oliveira.
Conforme os dirigentes, uma das preocupações do clube foi proporcionar um palco de jogo sem confusões. Para isso, contratam até seguranças particulares. Eles garantem que não ocorreram incidentes durante o campeonato e que os times adversários e as arbitragens sempre deixaram Alvorada elogiando a hospitalidade.
Leia outras matérias da seção Gente Como a Gente
Sonho é a elite em 2018
Nem os dirigentes imaginavam uma campanha tão boa em 2015. Dos 21 clubes da Série Bronze, a equipe teve a terceira melhor campanha. O ataque é o mais positivo de todas as séries do Estadual, com 127 gols em 25 jogos. O time chegou a ficar invicto por 13 partidas. Os números empolgaram, e o clube já pensa na elite do futsal gaúcho.
- Nosso projeto é ser o mais próximo possível do profissional. Temos dois preparadores físicos, fisioterapeuta. Se tudo der certo, queremos estar na Ouro em 2018 - salienta o presidente, que projeta também a formação de equipe sub-17 em 2016.
Mas antes da Ouro tem a Prata. E para chegar até lá, a Ser Alvorada tem de superar a Sase, da cidade de Selbach. Como empatou em 3 a 3 sábado, precisa ganhar sábado em Selbach, na Região Noroeste.
* Diário Gaúcho