Neste domingo, os corações batem acelerados no Uruguai. Seja nas lojas chiques da Avenida Gorlero em Punta, numa rambla de Montevidéu ou numa estância de Durazno. É dia de parar o país para ver Nacional x Peñarol no mítico Centenário. Um coração charrua, porém, bate mais do que qualquer outro. É o de Diego Forlán, 36 anos e o mundo no passaporte. O astro vive a ansiedade do seu primeiro clássico em seu país.
Será uma prova de fogo para Forlán. A torcida o reconhece como ídolo da seleção, como o craque da Copa de 2010. Orgulha-se de sua trajetória por gigantes da Europa. Mas falta-lhe um selo doméstico, extraído nos duros gramados charruas. E brilhar em um Nacional x Peñarol pode garanti-lo.
- O Uruguai reconhece a carreira internacional de Forlán. Mas ele precisa repetir isso jogando aqui. E o clássico é fundamental para isso - resume Wilson Méndez, repórter do programa Fútbol a lo Peñarol, no ar todos os dias na rádio AM 1010.
Faz duas rodadas que Forlán mostrou ao vivo o que os uruguaios só viam pela TV. Como um meia, por trás dos atacantes, brilhou no 3 a 1 sobre o Liverpool e no 4 a 1 no Villa Tereza. Até esses dois jogos, ele ouvia alguns muxoxos nas arquibancadas pelas atuações frias.
Tudo mudou contra o Liverpool. O Peñarol venceu por 3 a 1, Ele não fez gol, mas a jogada do segundo representou mais do que isso. Forlán arrancou da intermediária e driblou quatro antes de passar para Luís Aguiar empurrar para o gol aberto. As câmeras não fecharam em Aguiar, mas em um Forlán correndo enfurecido, com as mãos aos ouvidos. Era resposta para os torcedores que estavam no acanhado Estádio Belvedére e, conforme escreveu o El País, pediam ao ídolo "mas huevos".
- Os companheiros não entendiam os movimentos dele em campo. É como se o Forlán jogasse outro esporte no campo. Agora, começa a aparecer essa sintonia - explica Marcelo Decaux, repórter do jornal El Observador e setorista do Peñarol.
A imprensa uruguaia divide a passagem de Forlán no Peñarol como antes de Belvedére. Aliás, nesse jogo, houve uma cena que retrata bem o significado da volta para casa. Como na preliminar jogavam os juvenis dos dois times, não havia como acomodar o Peñarol no vestiário. Foi preciso esperar os guris jogarem e desocuparem o local para se trocar. Os repórteres alardearam a inusitada situação do ídolo, acostumado com os maiores estádios do mundo. O que ele minimizou:
- As pessoas esquecem por vezes que nasci aqui no Uruguai.
No que diz respeito ao futebol, Forlán nem chegou a nascer em seu país. Saiu para o Independiente antes dos 18 anos. Havia passado pelas categorias de base do Danúbio e do Penãrol. Clássicos como o deste domingo só havia visto da arquibancada, levado pelo pai. A volta ao clube do coração, aliás, tem como meta repetir a trajetória de Pablo Forlán, lateral-direito dos bons e campeão da América e do Mundial Interclubes de 1966 pelo Peñarol.
O clube vive dias de graça. Lidera o Apertura, dois pontos à frente do Nacional e prepara para o início de 2016 a inauguração do seu estádio. Pretende abrir a casa para 40 mil pessoas na Libertadores. Forlán é espécie de símbolo desta nova era. Com mais um ano de contrato, recebeu a tarefa de comandar o audacioso projeto para buscar o hexa da América. Seu salário, cerca de US$ 50 mil mensais, é o maior do grupo - no Inter, chegou com US$ 450 mil mensais. Para compensar, o Peñarol abriu mão de qualquer ganho com sua imagem.
As cifras nem foram consideradas na hora da assinatura. O ganho ao fechar com o Peñarol foi sentimental. Mais do que jogar no time do coração e onde o pai brilhou, está em casa outra vez. O momento é mais do que especial. A mulher, Paz, está grávida, e os Forlán curtem cada instante perto do filho famoso.
- São 18 anos fora do Uruguai. É um sonho para toda a família vê-lo jogar aqui, disputar um clássico como o deste domingo - diz o irmão, Pablo.
Para que o momento se torne perfeito, Forlán sabe que precisa vencer neste domingo. Ganhar do Nacional é entrar no céu amarelo e preto do Peñarol.
*ZHESPORTES