O maior problema de Matias Antonini na noite de quarta-feira era dormir. O volante de 17 anos, nascido em Porto Alegre e há três temporadas na Inter de Milão, estava com a adrenalina a mil depois de atuar por 30 minutos na vitória por 1 a 0 no clássico com o Milan, pelo Troféu Berlusconi. Antonini, como o chamam os italianos, estava eufórico, mas com uma preocupação típica de adolescente. Passava da meia-noite e, dali a seis horas, teria de estar de pé para encarar a aula pelo terceiro ano do Ensino Médio, que na Itália tem cinco anos.
- Não tem como dormir, mas preciso dar um jeito. Tenho aula às 8h, preciso acordar cedo, pegar o metro, que consome 20 minutos até a escola - me contou Antonini, por telefone, desde seu quarto no Interello, o CT da Inter para os guris.
A seguir, confira o bate-papo que tive com o volante de 1m95cm que ganha a confiança do técnico Robeto Mancini.
Como foi a experiência de jogar um clássico como Inter x Milan?
Faz três anos que estou na Inter e sempre fiquei imaginando como seria. Chegou a hora. Jogue meus 30 minutinhos contra o Milan (entrou aos 15min dio segundo tempo), estou realizado por ter atuado em um clássico desses.
Você já tinha jogado no Estádio Giuseppe Meazza?
Foi a primeira vez. Nunca tinha atuado lá, jogamos no Primavera (júnior) no CT. É tudo de alto nível, o estádio, a Inter, o Milan... Achava o estádio bonito vendo da arquibancada. Olhando de dentro do campo é mais ainda.
Como foi a apresentação aos profissionais? A concentração não existe em jogos em casa, não?
Moramos em Interello, o CT da base. Dá uns 40 minutos até Appiano Gentili (fora de Milão). Um carro do clube foi nos buscar e nos levar de volta (Mancini convocou vários juniores). Chegamos antes do almoço e nos apresentamos ao técnico.
A Inter apostou em um time misto, mas o Milan estava com força total, até pela taça levar o nome do pai do presidente.
Sim, o Milan tinha a maioria dos titularess. Quem me marcou, por exemplo, foi o (ganense Kevin Prince) Boateng. Pô, cresci olhando eses caras jogando, assisti pela TV, eram meus jogadores no videogame e agora estava ali, na minha frente.
Foi muito nervosismo antes de entrar em campo?
Até estava falando com meu pai há pouco. Sou um cara tranquilo, ele me ensinou a ser assim. Senti um frio na barriga, mas depois que dei o primeiro toque na bola disse para mim mesmo: "Pronto, vamos para o jogo."
O Roberto Mancini te disse o que antes de te colocar?
Ele chamou os guris que iriam entrar e perguntou: "Vocês estão com medo? É jogar rápido, dois toques". Eu estava com um sorriso no rosto, e ele me olhou e disse, rindo: "Tu estás com medo?". Eu respondi: "Nem um pouquinho".
E a camisa da estreia, vai para quem?
Para o meu avô, o seu Bigode. Ele é meu ídolo, e eu sou o dele. Mas peguei uma do Milan com o Rodrigo Ely (zagueiro que saiu do Grêmio para a Itália com 14 anos também). Temos uma história parecida, conversamos bastante depois do jogo. Só o conhecia de nome, é um cara legal.
Ele não te pediu a tua camiseta?
Expliquei para ele a situação. Eu disse: "Me dá a tua camiseta. A minha, eu não vou poder te dar..." Ele levou na boa.
E a taça, tirou foto no vestiário?
Não, não tirei. Só com o time, no campo. Mas ganhei medalha, está aqui comigo.
*ZHESPORTES