Repare na ilustração. Quantos da Seleção atual - tirando Neymar, obviamente - mereceriam figurar em um painel de craques da nossa história?
Eis aí o primeiro motivo da esperada e normalíssima derrota por 2 a 0 para o Chile, na abertura das Eliminatórias. Nenhum jogador brasileiro em campo no Estádio Nacional de Santiago é digno de um mural assim, ao menos por enquanto. A Seleção atual é um time que dói de tão comum. Mas é preciso olhar o adversário, e aí reside o segundo motivo do sofrimento que se arrastará por dois longos anos, até sabermos se, pela primeira vez, assistiremos a uma Copa no sofá de casa.
Os sinais assustam: o 7 a 1, o fiasco na Copa América, agora essa estreia melancólica, o ex-presidente da CBF preso, o atual com medo de viajar para não fazer companhia ao amigo. Bem, mas voltemos ao segundo motivo da derrota de quinta. O Chile é mais time. Não teve Aránguiz, o motor. Vidal jogou no sacrifício, recuperando-se de lesão. Duas reduções graves de meio-campo, mais Valdívia a caminho da aposentadoria. Ainda assim, flanou superioridade sobre o Brasil e sua dependência de Neymar. Bloqueou contra-ataques com inteligência, propôs as ações com maturidade, criou várias chances no passe e no drible.
O goleiro Bravo trabalhou mais com os pés, distribuindo o jogo, do que com as mãos. Além dos gols de Vargas e Sánchez, os chilenos somaram duas bolas na trave. O Brasil escapou de se atrapalhar no saldo de gols. O curioso é que, mesmo sendo mais time, o Chile não tem melhores jogadores. Os laterais do Brasil, Daniel Alves e Marcelo, são titulares do Barcelona e do Real Madrid, enquanto Isla e Beaseujour desaparecem no Olympique de Marselha, e no Colo-Colo.
Os zagueiros David Luiz e Miranda, brilham no PSG e na Inter, de Milão. Gonzalo Jara é do Mainz 05. Silva mora na Bélgica. Joga no Brugge. Claro que há Alexis Sanchez e Arturo Vidal, estrelas de primeira grandeza, mas na média o grupo brasileiro está mais bem posicionado nos grandes clubes da Europa. Douglas Costa é a paixão de Guardiola. Vargas tenta recomeçar no Hoffenheim. Andava no QPR. Então, chegamos ao terceiro motivo da derrota: o técnico.
Jorge Sampaoli é mais rodado do que Dunga. Treinou vários clubes sul-americanos. Ergueu taças no continente. Classificou o Chile para a Copa de 2014. Foi eliminado só nos pênaltis depois daquele milagre no travessão de Júlio Cesar, no último segundo da prorrogação. Oferece variações táticas, com desenhos diferentes. Arrumou um jeito de parar Messi com marcação por zona na final da Copa América. Quantos conseguiram?
Dunga é um técnico só da Seleção. Não fechou nem um ano no Beira-Rio, seu único clube como treinador. Tem um Gauchão no currículo. Pode se recuperar, pois é trabalhador, competente e sério. Fez bom trabalho no ciclo de 2010. Mas é fato: não tem a mesma bagagem de um Tata Martino (Argentina) ou um Jose Pekerman (Colômbia). O que não implica, claro, em pensar em troca de treinador. É justo que Dunga tenha mais tempo para trabalhar em sua segunda vez.
O quarto motivo da derrota é o mais grave. As pessoas já não se importam com a Seleção. As crianças vestem a camisa de Neymar, só que mais a do Barcelona. Não se vê um menino orgulhosamente pelas ruas com Oscar, Willian, ou Hulk às costas. Se a Seleção não for à Copa pela primeira vez na história, desconfio que o choque será maior no resto do mundo e menor aqui.
Talvez uma limpeza ética na CBF pudesse deflagrar a reversão desse círculo vicioso que vai enredando e empurrando o futebol brasileiro para o fundo do poço a cada competição oficial. Depender tanto assim de Neymar é injusto com ele e com um país que um dia foi tão feliz no futebol.
*ZHESPORTES