A CPI do Futebol no Senado começou a fazer barulho com a notícia da aprovação da quebra do sigilo bancário do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e do empresário Wagner Abrahão, dono da Pallas Turismo, que organiza as viagens da Seleção há 30 anos.
Mas quando se fala em CPI, vem a lembrança de 2001, quando o relatório, depois de um extenso trabalho, pedia o indiciamento do então presidente Ricardo Teixeira e outros 33 nomes, entres dirigentes e empresários. Na ocasião, a Bancada da Bola, liderada por Eurico Miranda, e conhecida pela troca de favores entre clubes, CBF e parlamentares, tratou de cuidar do trabalho nos bastidores para não permitir a aprovação do texto. Desta maneira, as investigações sobre a obscura relação entre CBF e Nike foram arquivadas.
Desta vez, 14 anos depois, o trabalho em Brasília parece ter algo diferente. O senador Romário se notabilizou por bater sem dó nos dirigentes brasileiros. Já utilizou os termos "ladrão, safado e ordinário" para adjetivar José Maria Marin, que segue preso na Suíça. Marco Polo foi chamado de "rato". Romário sabe que agora chegou o seu grande momento. Na semana passada, convocou os jornalistas Juca Kfouri, José Cruz e Jamil Chade para colaborar com as apurações que fizeram nos veículos de comunicação em que trabalham. Na frente deles, após os depoimentos, utilizou uma frase para definir seu estado de espírito para a batalha: "estou com sangue nos olhos". Mas novamente não será uma tarefa fácil, até porque a Bancada da Bola segue firme. Recentemente a série Os Coronéis do Futebol, da Rádio Gaúcha e de ZH, revelou os detalhes das doações feitas pela CBF aos candidatos que trabalham para defender a entidade em Brasília.
Alguns senadores com ligações íntimas com as verbas do futebol brasileiro fazem o possível para tentar esvaziar a CPI. Ciro Nogueira (PP-PI), por exemplo, que estava lá em 2001 ao lado de Eurico Miranda, este ano não tem comparecido a algumas sessões importantes, tentando assim evitá-las por falta de quórum. Zezé Perrella (PDT-MG) e Fernando Collor (PTB-AL) também parecem pouco interessados no andamento da investigação. Já Romário, como presidente da CPI, está incansável, e voltou a garantir que vai convocar em breve Del Nero e Ricardo Teixeira a falar.
O embate, frente a frente, promete ser histórico. Isso se o presidente da CBF resistir. Não há dúvida que ele vai cair se o FBI revelar quem é o tão falado "co-conspirador 12", descrito nos relatórios da justiça americana como alto executivo da CBF, Conmebol e FIFA, e que dividia as propinas com José Maria Marin. Apenas Del Nero se encaixa na descrição, não restando assim absolutamente nenhuma dúvida em relação a sua participação no esquema. Nas últimas semanas, os rumores de uma licença aumentaram, e curiosamente, desde o final de maio ele anda com pavor de avião, principalmente quando se trata de viagens internacionais. A esperança é que Romário, ou o FBI, dê o golpe final para nocautear o acuado presidente da CBF.