Amanhã, completam-se 25 anos da morte de João Alves Jobim Saldanha, um dos meus ídolos no futebol. Morreu em Roma, aos 73 anos, durante a Copa do Mundo da Itália, em 1990. Acendia um cigarro atrás do outro, e o pulmão não aguentou, fulminado por embolia e insuficiência respiratória.
Saldanha foi jogador de basquete e futebol, treinador, advogado, jornalista, comentarista, escritor e ativista político do partidão, o PCB, mesmo naqueles tempos bicudos da Ditadura. Sua trajetória rendeu livro, documentário e filme.
Era tudo isso e muito mais. Um polivalente. E valente. Gaúcho de Alegrete, bem pertinho da fronteira com o Uruguai, vivia no Rio de Janeiro, conheceu a China, morou na Europa e não levava desaforo para casa. Daí o apelido João sem Medo. Contam que, certa vez, foi de revólver na cintura até a sede do Flamengo tirar satisfação do então técnico rubro-negro Yustrich - casca grossa acostumado a confusões - e que planejava a derrubada de Saldanha para tomar o lugar dele como técnico da Seleção, antes da Copa de 1970. No fim, Zagallo é quem foi ao México e voltou com o tri com as "Feras do Saldanha".
Certa vez, como comentarista, Saldanha não gostou de uma atuação de Manga, do Botafogo, seu time do coração. Mandou chumbo no goleiro que chegava a um festa na sede do clube. Por sorte, Manga não se feriu e viria, anos depois, a dar o primeiro título nacional ao Inter, rival do seu Grêmio. Saldanha também era gremista, e responsável por uma legião de gaúchos torcer pelo Fogão.
Saldanha passou pelas principais emissoras de rádio e de TV e das redações de jornais do Rio. Chegou a comentar uma partida, ao mesmo tempo, pela TV Manchete e para Rádio Tupi. Pulava de uma cabina para outra no Maracanã. Falava simples, a linguagem do torcedor. Era divertido, irônico. O Guerrinha, comentarista da Rádio Gaúcha, lembra o estilo Saldanha. Nada daquelas chatices de numerologia de esquema táticos e estatísticas. Quando Saldanha era chamado a dar opinião, o narrador anunciava: vem aí o comentarista que o Brasil consagrou. Uma vez o locutor perguntou como estava a partida. De bate pronto ele respondeu. "O jogo tá muito ruim, frio, mas na arquibancada a coisa tá quente, o pau tá comendo solto".
Dias antes de morrer, ainda tinha voz para criticar o Brasil de Sebastião Lazaroni, eliminado naquela minitragédia para a Argentina de Maradona e Caniggia. Fico imaginando o que ele diria dos 7 a 1 que a Divisão Panzer disparou contra o Brasil, no Mineirão, ano passado.
Saudade do Saldanha.