A mistura de sentimentos tomou conta do canoísta Gilvan Ribeiro nas últimas semanas. Em preparação para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, ele não pôde acompanhar tão de perto a namorada, Jaiana Garcia, durante a gestação da filha do casal, Clara, que nasceu há 17 dias. Logo depois do nascimento da primeira filha, Gilvan partiu para o continente norte-americano para a disputa do Pan. No entanto, todo o sacrifício valeu a pena. E nem mesmo o fato de ter ficado a 125 milésimos de segundo do ouro diminuiu a alegria do atleta em trazer a medalha de prata para Santa Maria na modalidade K4 1.000m, disputada ontem, junto com os companheiros Roberto Maehler, Vagner Souta Junior e Celso Dias de Oliveira Junior.
- Valeu a pena cada remada. Sempre lidei bem com a pressão, mas, esta semana, ela caiu nos meus ombros como nunca. Eu me cobrei muito por esse resultado, queria muito dar essa medalha para a Clara. Sem dúvidas, em primeiro lugar, é dela, mas também de todos que acreditam no meu trabalho e para a minha Santa Maria querida. O gosto é de vitória, mesmo a menos de meio segundo do ouro - festeja.
Mesmo com toda essa mistura de sentimentos, uma frase resume o que passou pela cabeça de Gilvan depois da conquista.
"Eu pude ver o sorriso brilhante da Clara dizendo: 'Papai, você conseguiu, você conseguiu.' Consegui, minha filha. E quero que você olhe para essa medalha daqui alguns anos e tenha certeza de que você foi a minha principal inspiração", publicou Gilvan em seu perfil no Facebook.
A pressão que tomou conta de Gilvan antes da prova se transformou em adrenalina depois dela.
- Nossa! Foi muita adrenalina, nunca pulei de paraquedas, mas acredito que é a mesma adrenalina - comparou Gilvan.
A ansiedade em voltar para casa promete ser proporcional à vontade de rever a filha Clara. Gilvan fica em Toronto até quarta-feira. Nesse período, terá um tempo para descansar, mas também para treinar. Além disso, o atleta terá que dedicar algumas horas para pagar a promessa de ir correndo até as Cataratas do Niágara. A recompensa pela conquista seria cumprida nesta segunda-feira, no trajeto de cerca de 30 quilômetros que separam o hotel das cataratas.
A outra santa-mariense que remou em águas canadenses, Mariane Santos, formada no Projeto Remar, capitaneado por Gilvan e seu irmão, Givago Ribeiro, também canoísta, não conseguiu lugar no pódio. Junto com as companheiras Edileia Matos dos Reis, Ariela Cesar Pinto e Ana Paula Vergutz, Mariane conquistou a quinta posição na prova de K4 500m, no sábado.
Confira o relato que o canoísta fez nas redes sociais minutos depois de conquistar a medalha de prata no Pan-Americano em Toronto, no Canadá
Ontem o sono teimava em não vir, a noite foi longa. Eu já disse: atleta é forte mas não é feito de ferro, somos orgânicos, somos coração também. Meu lado emocional me testou como nunca essa semana. Lá no Brasil as minhas princesas precisavam de mim, mas eu tinha que cumprir a minha missão. O time precisava de mim aqui! Na quinta de manhã não consegui terminar o treino, o remo estava mais pesado do que deveria. Meus colegas perceberam que eu não estava bem, voltei para o hotel e me isolei. Nosso time estava focado e unido, sabíamos que a luta seria dura, mas em nenhum momento deixamos de acreditar. E eu, durante toda semana tentando me manter forte. Chegou o grande dia. Acordei cedo, tomei café e fui para o lago. Fizemos o pré aquecimento na água cerca de uma hora antes, o barco respondeu bem. Minha mente tentava fugir e eu lutava para manter ela presente e tranquila. Falta pouco, últimos detalhes. Coloquei o uniforme e quando olhei para a bandeira do Brasil pude sentir a energia que chegava até aqui. ''Faltam 20 minutos'', disse o treinador. Chegou a hora! Limpa a mente, limpa a mente! Um estado de transe toma conta. Conseguia ouvir o barulho de uma folha caindo no chão e ao mesmo tempo um silêncio frio e enérgico pairava no ar. Meus amigos, isso daqui é um exercício de auto conhecimento extremo. Colocamos o barco na água, vamos para a linha de largada. Lá em baixo, a torcida do Canadá esperava ansiosa para apoia-los. Do nosso lado direito o barco de Cuba e no esquerdo os Argentinos. Pronto, desliga tudo. Só posso olhar para o meu companheiro Celso e seguir perfeitamente a sua remada durante mil metros. Ordem de largada foi dada! Saímos bem mas perdemos uma distancia perigosa no começo. Mantem a calma, acredita! Metade da prova e estamos ainda atrás. O Canadá sobe forte e os argentinos também. 300m finais... com um breve grito, dou o comando de subida. A guarnição entende e reponde com muita força. Falta pouco, os barcos da ponta começam a travar. Nos aproximamos rapidamente. Eu olho para o lado e vejo o Canadá ficando, a torcida enlouquece. Estamos buscando a prata. Começo a ver o barco de Cuba perdendo velocidade, já não tinha forças pra gritar; 100m finais, passamos os argentinos, vamos, vamos, vamos.....É PRATA! É PRATA nos JOGOS PAN AMERICANOS! Eu pude ver o sorriso brilhante da Clara dizendo: Papai, você conseguiu, você conseguiu. Consegui, minha filha. E quero que você olhe para essa medalha daqui alguns anos e tenha certeza de que você foi a minha principal inspiração. Obrigado aos meus pais Cristina Bitencourt Ribeiro e Jorge Ribeiro, vocês são meu porto seguro. Minha namorada Jaiana Garcia, meu tesouro. Meu irmão Givago Ribeiro, meu eterno parceiro. Aos meus AMIGOS, todo meu respeito e gratidão. Aos meus colegas de equipe, sem vocês eu não conseguiria. E para a minha cidade Santa Maria querida, que seja um motivo pra sorrir. Nossa gente tem muito valor, nosso esporte tem muito valor!