É de reparar as próximas convocações para ver se ele será chamado de novo. Os dirigentes da CBF devem estar soltando fogo pelas narinas. Isso se eles tiveram tempo de tomar conhecimento das revelações feitas por Daniel Alves, às voltas com sair da cadeia, no caso de Jose Maria Marin, e não entrar nela, no caso de Marco Polo Del Nero. Felipão também não deve ter gostado nada. Em entrevista ao canal ESPN, o lateral-direito Daniel Alves afirmou que os jogadores da Seleção não estavam preparados para enfrentar a Alemanha. Deste vazio nasceu o 7 a 1, que nesta semana completou um ano.
Daniel frisou que não falava do ponto de vista físico. Estavam todos zunindo. Dariam mortais em sequência e correriam 100m rasos, se preciso fosse. Menos ainda do aspecto técnico. Mesmo sem Neymar, sequestrado da semifinal por uma joelhada pelas costas criminosa do colombiano Zuñiga, o grupo tinha qualidade para cumprir suas tarefas. Desde que houvesse tarefas. Este era, precisamente, o problema. Ninguém sabia ao certo o que fazer diante daquela multiplicação de alemães ocupando espaços e trocando passes até colocar o Brasil na roda.
Em vez de uma estratégia coletiva, repartidas em obrigações táticas individuais esmiuçadas meticulosamente para cada jogador, a Seleção foi a campo no Maracanã para ganhar se Deus quiser. E, como se sabe, Deus é brasileiro. Daniel não estava no 7 a 1. Perdera a posição para Maicon já nas quartas de final, contra a Colômbia. Um homem de sorte. Escapou do vexame. Seu nome não está na ficha do Mineiraço.
Acompanhei suas entrevistas na Granja Comary. Em algumas, generalizou críticas. Mas ele tem, ao menos, a virtude de não surfar na onda pegajosa do media training, aquelas entrevistas de plástico que, espremidas, não despejam uma gota de conteúdo. Daniel Alves abre a boca, e quem se expõe erra e acerta. Foi Daniel, também, que apanhou a banana atirada por racistas no gramado, descascou-a, deu uma mordida e seguiu jogando como se nada tivesse acontecido. Uma das maiores atitudes antirracistas que vi, pelo inusitado e por ridicularizar os idiotas. Então, Daniel Alves, entre prós e contras, merece crédito.
A entrevista desta semana me fez lembrar daqueles dias. O Brasil eliminara a Colômbia, em Fortaleza, no dia 4 de julho, uma sexta-feira. Descansou no sábado, 5, mesmo dia em que Neymar deixou a Granja na maca, de helicóptero. A rigor, fez um um único treino antes do fiasco. Foi na manhã de segunda, 7. Ao entardecer, a Seleção desceu a serra carioca de ônibus até o Galeão e, de lá, partiu em voo fretado rumo a BH. Assisti ao treino. Reproduzo a seguir o que escrevi naquele mesmo dia, em zerohora.com.br:
"O técnico Luiz Felipe Scolari caprichou no mistério no último treino realizado na Granja Comary antes da semifinal de amanhã, no Mineirão, contra a Alemanha. Ele usou nada menos do que 16 jogadores entre os titulares, alternadamente, em um trabalho de posicionamento, sem adversário. Na primeira formação, foi de três volantes, com Luiz Gustavo, Fernandinho e Paulinho, sem Willian e com Oscar por dentro para liberar Daniel Alves e Marcelo. Hulk ficou como atacante, perto de Fred. Um losango de meio-campo. Depois começaram as alterações, no maior clima de mistério. Willian entrou no lugar de Paulinho, retomando o modelo tático anterior, o 4-2-3-1. Na sequência, Maicon voltou ao time para a saída de Daniel. E Oscar saiu para Bernard entrar. Depois, salada total. Fernandinho sai em nome de Hernanes e Oscar voltou para o time titular no lugar de Willian. Para fechar, no finzinho, Jô no lugar de Fred."
Um treino fantasma, depois admitido como pegadinha para enganar os alemães através da imprensa, na véspera da semifinal de uma Copa do Mundo. Isso em plena era da informação total, como se os alemães não fizessem ideia de quem era Bernard e das funções que ele poderia exercer. Tempo, um tempo escasso entre quartas e semi, perdido. O substituto de Neymar trabalhou só na última parte. Se Bernard ficou em campo cinco minutos, foi muito.
Desconfio que Daniel Alves se referia a episódios como este, o do treino de mentirinha, ao cravar que a Seleção foi para aquela decisão despreparada.
Há muito, ainda, a ser revelado sobre o Daniel Alves pode ter sido só o primeiro a falar.
*ZHESPORTES