As eleições secretas são uma das denúncias mais comuns nas federações de futebol pelo Brasil. A Lei Pelé exige que o edital para a convocação dos pleitos seja publicado três vezes em jornal de grande circulação. Segundo os candidatos, nem sempre isso ocorre.
No Tocantins, o então diretor de futebol do Interporto, clube que disputa a série D do Brasileirão, Léo Almeida, planejava lançar uma chapa para a eleição de 2015. Certo dia, em julho de 2014, se surpreendeu ao saber que o presidente Leomar Quintanilha seria reeleito por aclamação no dia seguinte.
- Fomos pegos de surpresa. A eleição foi antecipada e ficamos sabendo na segunda-feira, quando o pleito seria realizado na terça pela manhã. Eles fizeram as coisas às escondidas e isso impediu que eu colocasse o meu nome - disse.
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Em Pernambuco, a oposição reclama que o presidente Evandro Carvalho aproveitou a morte do governador Eduardo Campos, em 13 de agosto de 2014, para convocar as eleições.
- Eles aproveitaram a comoção que o estado estava passando para publicar um edital às escondidas para que ninguém tivesse acesso às informações e não pudesse registrar chapas - , protesta o ex-presidente da Federação Pernambucana, Carlos Frederico Gomes de Oliveira.
Há casos também de assembleias gerais ordinárias que, repentinamente, teriam se transformado em eleições. "Era uma assembleia para prestação de contas. Eu não fui porque estava viajando. Quando voltei, tomei o conhecimento de que o Gustavo Feijó havia sido reeleito naquela assembleia", reclama o presidente do São Domingos, que foi candidato de oposição à presidência da Federação de Futebol do Espírito Santo.
Em Santa Catarina, o presidente Delfim de Pádua Peixoto Filho tem como principal opositor o ex-árbitro Dalmo Bozzano, que reclama de falta de transparência nos processos eleitorais:
- O estatuto não permite que se forme uma oposição. Para ser presidente da federação tem que morar em Camboriú e se chamar Delfim de Pádua Peixoto Filho. Ele está há 30 anos no poder mudando estatutos e ainda se diz democrata. É nojento - dispara.
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No Mato Grosso do Sul, o ex-jogador do Operário, Amarildo Carvalho, planejava lançar uma chapa contra o presidente Francisco Cezário. Ele reclama que, quando o seu nome ganhou força nas redes sociais, a federação mudou o estatuto. "Quando o meu nome começou a ficar forte, mudaram o sistema de votação. Passaram a exigir que, para concorrer, a pessoa fosse presidente de clube", denuncia.
Entrevista com Evandro Carvalho, presidente da Federação Pernambucana de Futebol
A oposição alega que o senhor antecipou a eleição e lançou o edital no dia da morte do governador Eduardo Campos. Isso é verdade?
O edital foi lançado 30 dias antes. A eleição não foi antecipada. O estatuto da federação determinava que o pleito fosse realizado em outubro. A questão é que o ex-presidente prorrogou o mandato dele por um ano. Seria uma ilegalidade eu me locupletar de uma prorrogação de mandato. Segui a Lei Pelé, com a publicação de três editais.
Quando terminar seu mandato, o senhor vai se candidatar novamente?
Tenho direito a uma reeleição. Se os clubes entenderem que eu estou fazendo um bom trabalho, serei candidato novamente. Depende dos clubes.
Em vídeo, Rodrigo Oliveira e Eduardo Gabardo contam os bastidores da reportagem:
A reportagem faz parte de uma série especial da Rádio Gaúcha.
*RÁDIO GAÚCHA