No Mato Grosso do Sul, o ex-jogador Amarildo Carvalho alega que o presidente Francisco Cezário se mantém há 26 anos no poder usando a mesma prática. "Os meus eleitores eram comprados na estrada por R$ 5 mil", diz candidato de oposição
Pode soar estranho, mas o futebol amador tem poder de definir os rumos das eleições das federações de futebol, pois o colégio eleitoral é composto por clubes profissionais, equipes amadoras e ligas municipais. Por ter mais integrantes, o futebol amador costuma ter um peso maior na eleição. Este cenário facilita a compra de votos de equipes ou ligas mais pobres.
- Essas ligas só aparecem na hora da eleição. O voto é trocado por bolas. Com isso, eles estão no poder há 21 anos - diz o presidente do Linhares Esporte Clube, Adauto Menegussi, do Espírito Santo, que lançou uma candidatura de oposição e foi derrotado por Gustavo Vieira, candidato apoiado pelo vice-presidente da CBF Marcus Vicente.
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Estas práticas também são denunciadas no Tocantins.
- Isso aí é uma verdadeira compra de votos. É bola e material, principalmente em época de eleições - diz o ex-diretor de futebol do Interporto, Léo Almeida.
- Os clubes profissionais da segunda divisão não têm direito a voto. Então são oito clubes profissionais da primeira divisão contra mais de 15 ligas amadoras. A supremacia é do futebol amador - completa.
- Tem copa amadora em tudo que é lugar do Tocantins. É muita gente que se vende em troca de bola, de jogo de camisas, aí ficam amarrados em torno do poder sem ter pudor nenhum - relata o ex-vice-presidente do Gurupi, Gil Correia.
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Em Alagoas, Gustavo Feijó dirigiu a federação local por 21 anos. Deixou o cargo para assumir a vice-presidência da CBF e apoiou a eleição do seu filho, Felipe Feijó, de apenas 24 anos, que é hoje o presidente de federação mais novo do Brasil. O candidato derrotado, José Cordeiro de Lima, presidente do São Domingos, denuncia a compra de votos no pleito ao longo da gestão dos Feijó.
- Em época de eleição, a federação vem e dá um presente: bola, jogo de camisas, jogo de calção. Pior é um clube profissional que se vendeu por dez televisores - dispara.
- Infelizmente, o pessoal que vota nele se vende por qualquer coisa. É uma bola ou uma chuteira a mais para o clube, pega um recibo ali e já fica amarrado - relata.
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No Amazonas, o apoio das ligas amadoras municipais garante no poder o presidente Dissica Valério Tomaz há 21 anos.
- As ligas vivem a reboque. Elas recebem bola, troféus e coletes. O Dissica tem as ligas em suas mãos - afirma o presidente do Manaus, Luis Augusto Mitoso Júnior.
- É injusto um clube centenário ter o mesmo voto que uma liga que nem campeonato tem. Aí vem a liga e decide uma eleição - reclama o vice-presidente do Fast Clube, Cláudio Nobre.
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No Pará, o presidente da federação é o coronel reformado da Polícia Militar Antônio Carlos Nunes. O ex-presidente do Paysandu, Luiz Omar Pinheiro, lançou uma chapa de oposição e foi derrotado em 2013. Ele denúncia que seus eleitores eram parados na estrada no dia da eleição. E eram comprados.
- Vinham quatro presidentes de liga no carro. Aí pararam os caras a 10 quilômetros de Belém e os compraram. Tudo isso acontece em eleição aqui. Eles dão dinheiro e falam toma aqui 5 mil. É assim - afirma Pinheiro.
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Gesley Borges, presidente da Liga de Guaraí-TO
Eles sempre ajudam a gente com bolas, coletes, troféus e ajuda de custo para organização de campeonatos. Inclusive algumas taxas eles liberam (isentam) para gente, pois o custo de vida é muito alto. Eles estão sempre nos apoiando nisso.
Denir Maurício, presidente da Liga de Palmas-TO e vice-presidente da Federação Tocantinense de Futebol
A Federação sempre ajuda com apoio logístico, troféu ou alguma coisa que a gente solicita. Às vezes, quando a gente precisa, ela doa algumas bolas. Mas como bola é um material mais caro é mais complicado. Mas ela não deixa de ajudar não.
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Entrevista com Gustavo Feijó, ex-presidente da Federação Alagoana, vice-presidente da CBF, prefeito de Boca da Mata (AL) e diretor da associação dos municípios alagoanos
A sua candidatura para a reeleição como presidente da federação alagoana foi impugnada. Por que o senhor colocou o seu filho, Felipe Feijó, como candidato?
Houve uma ação do São Domingos por falta de prestação de contas, mas eu comprovei perante a justiça que estava tudo certo. O estatuto prevê que a chapa tinha que ser inscrita dez dias antes da eleição. Naquela data, eu já tinha definição da ideia de renovação na federação. O Felipe foi eleito com mais de 90% dos votos.
Em algum momento o senhor utilizou verbas da federação pouco antes da eleição para presentear as ligas amadoras com bolas, uniformes e televisores?
Nós distribuímos bolas sim, é uma prática normal.
O senhor é prefeito de Boca da Mata, e diretor da associação dos municípios alagoanos. Em algum momento foi usada a sua influência política para buscar votos para o seu filho?
Em momento nenhum. Só tem uma palavra para definir isso: inveja. A oposição quer denegrir a minha imagem.
A gestão da federação é feita 100% pelo seu filho de 24 anos ou tem a sua participação?
Eu nem vou na federação, tenho outros afazeres. Vou uma vez a cada 30 dias lá só para visitar. E tem mais, não quero ser um vice-presidente fantoche na CBF. Quero ter ações concretas.
Em vídeo, Rodrigo Oliveira e Eduardo Gabardo contam os bastidores da reportagem:
A reportagem faz parte de uma série especial da Rádio Gaúcha.
Ouça a reportagem especial da Rádio Gaúcha:
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