A eleição presidencial da Fifa, em 29 de maio, em Zurique, na Suíça, será histórica.
Pela primeira vez desde que o grupo político comandado por João Havelange assumiu a entidade, em 1974, a oposição reagiu e apareceu em peso. Isso não significa que os adversários de Joseph Blatter tenham chance, mas o recado está dado. O ex-jogador português Luis Figo, o príncipe jordaniano Ali Bin Al Hussein, e o presidente da Federação Holandesa de Futebol, Michael Van Praag, têm em comum a insatisfação com os rumos da Fifa e os intermináveis escândalos e denúncias de corrupção.
Os três oposicionistas têm o apoio de nomes históricos do futebol, como Johan Cruyff, Jose Mourinho, Fernando Hierro e David Beckham. O problema é que eles não votam. Quem decide tudo são as 209 federações filiadas à entidade. E Blatter sabe conduzir esse colégio eleitoral como poucos. Funcionário da Fifa desde 1975, foi secretário-geral de João Havelange durante 17 anos. Com ele, aprendeu as artimanhas para se manter no poder.
Enquanto Jérôme Valcke passa boa parte do seu tempo cuidando da organização da Copa do Mundo e Thierry Weil, acertando os contratos de marketing, Blatter faz campanha 365 dias por ano.
Uma semana está inaugurando centro de treinamentos na Zâmbia, na outra é convidado para evento na Nicarágua. Três dias depois, já pode ser visto do outro lado do planeta, na Nova Zelândia, em visita aos estádios do mundial sub-20. Neste ano, um dia depois da validação das quatro candidaturas, ele mandou uma carta aos presidentes de todas as 209 federações oferecendo US$ 300 mil a cada um deles. Um bônus para ser usado em despesas gerais. No total serão US$ 62 milhões. Dinheiro da Fifa.
A oposição exige transparência para que a verba seja usada para o desenvolvimento do futebol, não pelos cartolas. De qualquer maneira, o "presente", que equivale a 10% do orçamento anual de pelo menos 100 federações, fará diferença. Nesse ritmo, Blatter já contabiliza todos os votos da África, Concacaf, Conmebol e boa parte da Ásia. O suficiente para vencer com folga, superando a resistência que encontra hoje na Europa. Assim, quando encerrar o quinto mandato, em 2019, Havelange e Blatter vão completar 45 anos no poder. Nesse período, a Copa do Mundo ganhou outra dimensão e, com os milionários contratos de marketing, a entidade virou uma máquina de faturamento. Mas os repetidos escândalos mancharam a administração.
O último problema foi o inexplicável arquivamento do rigoroso trabalho do investigador independente Michael Garcia sobre a maneira como o Catar ganhou o direito de sediar o Mundial de 2022. Na próxima eleição, em quatro anos, o suíço estará com 83 anos. Seu homem de confiança e possível substituto é Valcke, que conhecemos na última Copa, mas que ainda precisa aprender a controlar seu temperamento explosivo. Este ano, os oposicionistas podem marcar território. Michel Platini, que desistiu agora porque não ter chances, virá com força.
Em 2015, Blatter vai comemorar mais uma vitória, mas pode ser a última.