Que tal um quarteto ofensivo com Conca, Ricardo Goulart, Diego Tardelli e Barcos? Poderia ser uma seleção do Brasileirão do ano passado, e poderá ser a seleção da Superliga Chinesa de 2015.
O oriente tem sido o caminho das estrelas do futebol brasileiro. Os gremistas, que perderam Barcos e Moreno, sabem bem. Mas por que a China resolveu despejar dinheiro no futebol? A resposta passa longe do ambiente das quatro linhas.
Os 16 clubes da primeira divisão chinesa são controlados por empresas. Mesmo que o crescimento recente do esporte tenha aumentado receitas, oferecer salários milionários aos jogadores traria prejuízo às corporações. A relação só é vantajosa porque vai muito além do jogo.
O governo entrou em campo para transformar o futebol em um bom negócio. Quem participa das transações aponta Wu Bangguo, ex-presidente da Assembleia Popular Nacional, principal órgão legislativo do país, como responsável pela virada.
Apaixonado por futebol, ele teria influenciado a garantia de incentivos governamentais para alavancar o esporte. Em 2013, o presidente Xi Jinping afirmou que sonhava com o crescimento do futebol na China. As empreiteiras que investem em clubes passaram a ganhar áreas públicas para novas construções. Quem não quer terrenos vai em busca de prestígio político.
- Foi o início do processo de crescimento do futebol chinês. Atuo nessas transações desde 2008, e o cenário era completamente diferente - destaca o agente Fifa Ricardo Mello, que intermediou as negociações dos ex-centroavantes do Grêmio.
O Guangzhou Evergrande, principal clube do país, é um símbolo do modelo. Rebaixado após envolvimento em um mega-escândalo de manipulação de resultados, foi comprado, ainda na segunda divisão, pela construtora Evergrande, do bilionário Xu Jiayin, o quinto homem mais rico da China.
As contratações se acumularam. Muriqui, ex-Vasco e Avaí, foi o primeiro. Marcelo Lippi, técnico campeão do mundo com a Itália em 2006, ficou até o ano passado, e hoje a equipe é comandada por Fabio Cannavaro, capitão da Azzurra naquela Copa. Para contar com Ricardo Goulart, principal contratação para 2015, o atual tetracampeão chinês pagou 15 milhões de euros.
As estrelas fizeram o interesse pelo futebol crescer. Em um país que tem o tênis de mesa como paixão nacional, a bola grande ganhou espaço e a Superliga Chinesa tem público médio de pouco menos de 19 mil pessoas por jogo - superior aos 16.555 do Brasileirão.
O espetáculo ainda deixa a desejar, mas tem melhorado com os reforços que chegam de fora.
- Os jogos são bem competitivos. Tem muito chinês com nível para atuar no Brasil. Eles têm evoluído muito com a chegada de técnicos estrangeiros - lembra o atacante Guto, formado na base do Inter e atacante do Chongquing Lifan.
- Entre o início e o fim da minha passagem, deu para notar a melhora dos jogos - completa Paulão, zagueiro do Inter que defendeu o Guangzhou Evergrande entre 2011 e 2013.
Ainda assim, a motivação principal dos jogadores para a aventura chinesa é financeira. Os técnicos da Seleção Brasileira ignoram quem escolhe a China. O destino também não serve como ponte para chegar à Europa.
- Os europeus veem o futebol daqui como interessante porque há muito dinheiro circulando, mas não como um mercado onde eles vão buscar jogadores - comenta Mello.
Enquanto não há ponte entre os chineses e o Velho Continente, eles depositam seus milhões para tirar os craques daqui. O Grêmio que o diga.
Os clubes e as estrelas do futebol chinês: