No Grêmio, só se fala em Luan, Wendell, Dudu. No Inter, os que se dão bem em Gre-Nal: DAlessandro, Alex. Até Wellington Paulista entrou na dança. Talvez fosse o caso dele em vez de Rafael Moura, já que fez gols no Grêmio jogando por Cruzeiro e Criciúma. E os goleiros? Por que ninguém trata do drama que será a vida de Dida, se Enderson Moreira montou um Grêmio com três atacantes e volantes que estão sempre dentro da área, Ramiro e Riveros? E de Marcelo Grohe, última cidadela contra um Inter cheio de meias e atacantes e só um jogador com DNA de marcação no meio-campo, no caso Willlians?
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Dida e Marcelo são os personagens desta nossa decisão provincial. Eles não são nada polêmicos, mas estão sempre metidos numa polêmica. Grohe teve a carreira atrasadaem um ano por Dida, contratado pelo Grêmio para ser o titular no ano passado. Dida não teve nada a ver com isso, é claro. Estava lá na Portuguesa, quase de pijama e chinelos pensando na aposentadoria, quando o Grêmio foi buscá-lo, apesar do bom 2012 de Marcelo. Aí está a polêmica que os persegue. Os dois passaram meses sendo defendidos e atacados por marcelistas e didistas em guerra, mesmo vivendo em paz e harmonia no vestiário.
Nunca vi nada igual. Eles eram amigos, são ainda, suponho, mas seus defensores, a cada defesa ou gol tomado, acirravam ódios. Quando tudo parecia ir pelo caminho da normalidade, Dida toma uma atitude fora da normalidade. Sai do Grêmio para o Inter sem escalas. Só muda o trajeto de casa para o trabalho. Passa a ser odiado pelos gremistas que antes o abraçavam, assim como os colorados ficam sem saber como apoiarão o goleiro que chamavam de velho. Normal.
O ato de torcer pressupõe enxergar só um lado e cegar em relação ao outro. Do contrário, o torcedor não seria um apaixonado, mas um pensador, um Platão da arquibancada. A incoerência é cláusula pétrea do torcedor. Se tiver coerência, perde a graça.
O Gre-Nal dos estádios, por exemplo. Dinheiro público no Beira-Rio para a Copa, com as instalações provisórias, não pode. É o que dizem gremistas, para fúria de colorados. Mas logo ali adiante virá o necessário dinheiro público para o entorno da Arena, e aí tudo se inverterá.
Os colorados clamarão por ética e zelo na destinação dos nossos impostos, acusando o poder público de favorecer o Grêmio em vez de lutar contra a pobreza e a fome. Os gremistas dirão que a região da Arena exige investimentos para crescer e beneficiar milhares de famílias e, além do mais, se o Beira-Rio ganhou, então a Arena também merece. Eu mesmo receberei e-mails de colorados e gremistas irritados com esta frase, com argumentos que já estiveram no escopo rival em outros episódios.
Se é sempre assim, não haveria de ser diferente com Dida. Ele vai para o Gre-Nal com toda esta carga e mais o agudo e entrosado Grêmio pela frente - ainda que permaneça mudo e alheio a tudo. Não será diferente com Marcelo justamente por causa de Dida. Marcelo foi bem em vários Gre-Nais, mas a comparação será inevitável. Do outro lado estará o goleiro que o colocou no centro de uma polêmica involuntária. Ainda hoje, apesar da boa fase, mesmo tomando raros gols, volta e meia reverberam resquícios daquele debate. Podia ter chegado na bola se tivesse o braço comprido como Dida? Pega pênalti como Dida? Tem estrela como Dida? E Dida, tem a mesma agilidade que Marcelo? Joga com os pés como Marcelo? Sai do gol melhor do que Marcelo?
Será um Gre-Nal de centroavantes, com Rafael Moura ou Wellington Paulista fazendo gols pelo Inter e Barcos já garantido na artilharia isolada do Gauchão, mas, se isso é verdade, como de fato é, então será também um Gre-Nal de goleiros.
Mesmo que Marcelo e Dida não queiram ou se importem com isso.