Dentro da mala, Craig Ivey leva objetos que remontam à Idade Média.
Há um escudo de aço redondo; um escudo de madeira pentagonal; um surcote vermelho, branco e azul; um colete protetor; um capacete transversal, todo afundado; proteção de aço para o antebraço, joelho, perna e mão e uma espada criada para infligir dor, mas não cortar. Essa coleção custa cerca de US$ 4 mil.
Ivey, um personal trainer de Atlanta, vai usar os 27,2 kg de equipamento agora em maio, numa arena ao ar livre em Aigues-Mortes, no sul da França, competindo pela primeira vez na Batalha das Nações, um combate moderno com ares medievais entre as equipes de vários países.
Além dele, cerca de 500 participantes de 22 países se reuniram para os quatro dias de competição.
Eventos de luta de contato total como esse surgiram dos espetáculos de recriação histórica, geralmente teatrais e contidos. Nos EUA, a maioria usa armas só de madeira.
Já a Batalha das Nações, em sua quarta edição, é o primeiro evento esportivo nessa escala que permite o uso de armadura de aço - um fator de risco a mais e que atrai um tipo bem específico de competidor. Até agora, a primazia é russa.
Muitos atletas participam atraídos pela ideia de um tempo em que as diferenças eram decididas na espada e geralmente acabavam em morte.
- Sempre me interessei por história e guerras - e para poder entender um pouco da vida naquela época, participo dessas competições. Toda vez que perco uma luta sei que, se fosse em outros tempos, seria o fim. Literalmente - diz ele.
O torneio é dividido em quatro categorias: um contra um; cinco contra cinco; 21 contra 21 e todos contra todos, da qual participa a equipe inteira. Vence quem cair por último ou aguentar em pé. O competidor é eliminado quando pelo menos três partes de seu corpo, incluindo os pés, estão tocando o chão.
Os confrontos que envolvem poucos participantes se resolvem rapidamente; já entre os times inteiros, a disputa dura até dez minutos.
Vários elementos do torneio foram "emprestados" de outros esportes: o juiz, por exemplo, aqui chamado "marechal cavaleiro", exibe cartões amarelos e vermelhos pelas infrações dos participantes como no futebol - que, por sua vez, assumem posições semelhantes ao do futebol americano.
Jaye Brooks, de 47 anos, é quem dirige o time norte-americano. Ele recrutou 50 lutadores, incluindo a si mesmo e o filho, Catlin, de 25 anos, para o evento - e conta que, no ano passado, os critérios de participação eram apenas dois: ter condições de pagar pela viagem para a Polônia e muita coragem.
Os EUA terminaram em quarto entre 14 países na estreia, em 2012. Este ano, 18 dos 29 membros retornaram. A idade média dos competidores norte-americanos é 37 anos - e embora ainda não haja mulheres, já se pensa em criar uma categoria feminina.
A motivação de Ivey é tão grande quanto a dos outros atletas, embora tenha plena consciência de que há grandes chances de se ferir. E descreve sua mentalidade como a de um soldado.
- Se machucar, machucou, oras.
É comum ver participantes oriundos da carreira militar: na equipe dos EUA, pelos menos um quarto dos integrantes serviu o Exército.
Os equipamentos são checados para garantir que estejam de acordo com o período histórico escolhido para a competição. As armas não podem ser afiadas. Apunhalar ou investir contra o inimigo - movimento definido como excesso de força aplicado a um mesmo ponto de contato repetidas vezes - não é permitido. Os participantes só podem atingir a região chamada de "área para matar", que não inclui os pés, a parte posterior do joelho, a virilha e a nuca. Golpes verticais na coluna, bem como horizontais na parte posterior do pescoço são proibidos.
Entre os ferimentos mais comuns estão a perda de dentes e dedos quebrados. Nos EUA, os atletas também fazem exames para avaliar a possibilidade de concussões.
Brooks, que já rompeu os músculos do joelho, diz que aguenta qualquer tipo de contusão resultante da disputa que recria períodos históricos.
- É o esporte perfeito para quem quer participar de um dos esportes mais violentos do planeta, curte armaduras e artes marciais ocidentais e quer se sentir como um cavaleiro medieval na era moderna - afirma ele.
- A maioria de nós sonhava com isso quando era criança. Quem diria que esse sonho ia se tornar realidade?