Poucos o conhecem, mas, aos 75 anos, Adegard Câmara Florentino pode se vangloriar de ter obtido um feito raro no esporte. Praticante de boxe desde a sua adolescência, Touro Moreno, como é conhecido, se orgulha de ter gerado dois medalhistas olímpicos.
Morador de Vitória (ES), Touro é pai de Esquiva e Yamaguchi Falcão, os dois brasileiros que vão ao ringue nesta sexta-feira, às 11h e às 18h (no horário de Brasília), respectivamente, pelas semifinais do torneio olímpico de boxe.
Touro Moreno deixa de lado o discurso padrão pela busca por centro de treinamentos modernos, das reclamações por melhores condições. Touro prefere contar como, desde antes do nascimento dos filhos, já pretendia torná-los bons boxeadores.
- Eu escolhi bem até a minha mulher, para que fosse a mãe que me desse filhos atletas - revelou Touro, pai de 18 filhos, 15 deles ainda vivos, e casado com Maria Olinda Falcão.
Motivos para reclamação, o ex-pugilista teria de sobra. Tanto Esquiva quanto Yamaguchi foram treinados por ele no quintal de casa, onde o pai sustenta uma academia.
No entanto, Touro prefere usar as dificuldades que teve como motivação. Ele vai além: chega a comparar a criação dos seus filhos com as condições de Cuba - referência quando o assunto é pugilismo.
- Nunca fui ajudado. Não tínhamos o que comer, não tínhamos muita coisa. E, mesmo assim, eles estão aí, representando o Brasil - disse.
A paixão pelo esporte interferiu até mesmo na escolha do nome dos filhos. Esquiva se chama assim porque, durante os combates, os técnicos não podem dizer nada além do nome do pupilo. Assim, o filho poderia ser orientado sem burlar a regra.
Tanto empenho é retribuído em forma de homenagem no ringue pelos filhos. Após o combate das quartas de final, em que venceu o húngaro Zlatan Harcsa por 14 a 10, Esquiva, emocionado, fez uma letra "T" com os braços para lembrar do pai incentivador.