Principais adversários dos clubes brasileiros na briga pelo título nas últimas edições da Libertadores, Boca Juniors e River Plate chegam para a retomada da competição cercados por incertezas e com seus elencos totalmente fora de ritmo de jogo. Desde que a temporada 2019/2020 da Argentina foi dada por encerrada ainda em março por conta da pandemia de coronavírus, os dois gigantes e também Racing, Defensa y Justicia e Tigre não disputaram nenhuma partida sequer.
As medidas rígidas de distanciamento social adotadas pelo governo Alberto Fernández forçaram os clubes do país a uma parada de cinco meses nos treinamentos presenciais. A volta às atividades ocorreu na segunda semana de agosto impulsionada pela definição por parte da Conmebol do retorno da Libertadores para setembro - data que não teve a concordância da Associação do Futebol Argentino (AFA), voto vencido no congresso da entidade sul-americana, em julho.
O retorno dos campeonatos nacionais na Argentina ainda está indefinido. O plano era de que a Liga Profissional – nome do novo torneio que substitui a Superliga - começasse em setembro, mas teve o início postergado para outubro em razão do aumento dos casos de covid-19 no território argentino. Pelo mesmo motivo, os clubes não realizaram amistosos preparatórios para a Libertadores.
Boca com surto de casos
O Boca Juniors decidiu concentrar o seu elenco em um hotel para tentar criar uma bolha sanitária para os treinamentos. A iniciativa, no entanto, teve efeito contrário. O clube sofreu com um surto de coronavírus em sua delegação tendo um total 22 jogadores infectados _ sendo oito titulares -, além de funcionários e membros da comissão técnica.
— Todos os jogadores realizaram testes antes de entrarmos na concentração e os resultados foram negativos. Acreditamos que algum dos testes deu um falso negativo e foi por aí que o vírus entrou na bolha — explicou o médico xeneize Jorge Batista.
Os casos de covid-19 forçaram o clube a suspender os treinamentos na primeira semana de setembro. O técnico Miguel Ángel Russo, que pertence ao grupo de risco do coronavírus, foi afastado da concentração. Apenas na última quarta-feira, os primeiros contaminados foram liberados para voltar a treinar e a comissão técnica de Russo passou a comandar atividades para 18 atletas.
A expectativa é de que neste final de semana uma nova leva de jogadores receba liberação para treinar. De qualquer forma, o Boca chegará para o jogo contra o Libertad na próxima quinta-feira, no Paraguai, tendo realizado poucas sessões de treinamentos coletivos.
— O Boca chega com muita incerteza por conta dos casos de coronavírus. As maiores dúvidas são físicas e futebolísticas, pois os jogadores contaminados não puderam se preparar bem para jogar. O Boca vai enfrentar o Libertad sem ter disputado sequer um amistoso e contra um adversário que vem com ritmo de jogo por ter disputado mais dez jogos no Campeonato Paraguaio — analisa o jornalista Sergio Maffei, setorista do Boca Juniors para o Diário Olé.
O Boca se movimentou pouco no mercado durante a parada da Libertadores. As principais ações do clube foram as renovações dos contratos dos atacantes Carlitos Tevez e Mauro Zárate. Duas contratações foram feitas, o meia colombiano Edwin Cardona e o goleiro Javier Garcia, ambos com passagem pela Bombonera.
O clube perdeu peças de reposição do elenco, como o zagueiro Junior Alonso, agora no Atlético-MG, e o meia Emanuel Reynoso, negociado com o Minnesota United, dos Estados Unidos. O atacante Sebastián Villa tem seu futuro indefinido após ter sido acusado de agressão pela sua ex-namorada. O Boca tomou a decisão de não escalar o jogador até que haja uma definição do caso na Justiça.
River Plate
Finalista nas duas últimas edições da Libertadores, o River Plate teve menos problemas com casos de covid-19 no elenco – apenas um jogador titular, dois goleiros reservas e alguns membros da equipe de apoio testaram positivo durante o período de treinos. O clube, no entanto, sofreu com perdas importantes para a retomada da competição. Herói da final contra o rival Boca em Madri, em 2018, o colombiano Juan Quintero acertou sua saída para jogar no futebol chinês, onde vai defender o Shenzhen. O atacante Ignacio Scocco não teve o contrato renovado e assinou com o Newell's Old Boys.
Lucas Pratto, reserva bastante utilizado por Marcelo Gallardo, está lesionado e não pode enfrentar o São Paulo, no Morumbi, na quinta-feira. Gallardo ainda poderá sofrer mais perdas nas próximas semanas. O atacante Rafael Borré, o meia De La Cruz e os defensores Martínez Quarta e Gonzalo Montiel têm sondagens do exterior.
— Sem jogos amistosos, Marcelo Gallardo tentou preparar o time nos treinamentos, mas certamente chegará em enorme desvantagem para enfrentar o São Paulo. Além disso, tem as baixas de Quintero, Scocco e Pratto, o que gera problemas para a reposição do time titular, que segue com a mesma base. Esse é um ponto a favor, mas que pode contar pouco para um time que vem de seis meses sem jogar — projeta Javier Gil Navarro, da Espn da Argentina.
Campeão nacional em 2019 sob o comando do atual técnico do Inter Eduardo Coudet, o Racing iniciou a Libertadores considerado como a terceira força da Argentina na Libertadores. O clube de Avellaneda teve poucas mudanças no elenco e chega com problemas de lesões em seu time titular para o retorno da competição. Maiores dificuldades ainda deverão ter Tigre e Defensa y Justicia, que têm menores condições técnicas para superar a falta de ritmo de jogo.
Mudanças nos elencos
Boca Juniors
- Principal contratação: Edwin Cardona (meia)
- Saíram: Marcos Díaz (goleiro), Junior Alonso (zagueiro), Emanuel Reynoso (meia) e Jan Hurtado (atacante)
- Voltaram de empréstimo: Agustín Rossi (goleiro), Gonzalo Maroni (meia) e Walter Bou (centroavante)
River Plate
- Não contratou
- Saíram: Kevin Sibille (zagueiro), Ignacio Scocco (atacante) e Franco Paredes (zagueiro), Enzo Fernández (meia) e Juan Quintero (Shenzhen de China)
- Voltou de empréstimo: Jorge Moreira (lateral-direito)