O Humaitá acolheu o Grêmio e a Arena há praticamente 11 anos. Desde o começo das obras, em outubro de 2009, uma relação entre clube e o bairro foi criada. Desde então, o time conquistou Copa do Brasil, Libertadores, Recopa e dois Campeonatos Gaúchos. Sorriram e sofreram em Gre-Nais, mas nenhum clássico foi maior do que aquele que se aproxima na próxima quinta-feira (12). As horas que antecedem o Gre-Nal 424 são de espera, projetando o primeiro duelo entre Grêmio e Inter na história da Libertadores, algo esperado há muito tempo e que esteve próximo de ocorrer em pelo menos duas oportunidades — 2011 e 2019.
A partida, uma das maiores da história da Arena, não mexerá apenas com os ânimos dos torcedores gaúchos, mas também com a rotina dos moradores e comerciantes do bairro de 417 hectares na zona norte da capital.
É o caso de Zaida Xavier, 76 anos, e do seu neto, Diego Xavier da Silva, 36. Conhecida como Dona Dora, a comerciante é a proprietária do bar homônimo localizado na esquina da rua Padre Leopoldo Bretano e da rua Luiz Carlos Pinheiro Cabral — um dos poucos estabelecimentos abertos em dias normais nos arredores do estádio gremista.
Uma semana antes da partida, a Lancheria da Dora já é preparada para receber centenas de torcedores na próxima quinta. Em dias de jogos de menor porte, Diego afirma que vende em média 15 caixas de cerveja. Esse número quadruplica em jogos do tamanho de um clássico como o da Libertadores. O mesmo ocorre na comida, se em partidas de Gauchão 50 pastéis são preparados, em um Gre-Nal a quantidade chega a 250. O trabalho também é dobrado. Em jogos assim, eles ficam na função durante praticamente 24h, das 7h30min até 4h do dia seguinte. Na conquista da Copa do Brasil, em 2016, o neto conta que a procura foi tanta que faltou cerveja.
— Já pedi a bebida para o meu fornecedor. Não posso chegar na semana que vem e pedir, corro o risco de que ele não me entregue. A gente gosta do Gre-Nal, vêm muitas pessoas do interior. É bom porque eles gastam, né? Se o Grêmio ganhar, vendemos tudo. Se perder, é uma desgraça — diz Diego, entre risos, que logo é completado por sua avó: — Para a gente, o melhor jogo é aquele em que não conseguimos nem sentar de tanto trabalhar — diz Dona Dora, lembrando que, quando chegou à região, em 1964, tudo era praticamente mato e o Humaitá era chamado de Vila Farrapos.
Predominantemente residencial, o bairro só teve sua criação oficializada em 1988, 24 anos depois da chegada de Dona Dora. O Humaitá foi uma região que teve moradias projetadas pela iniciativa privada nos anos 1970 para responder aos problemas de habitação da cidade. No início dos anos 1990, novos condomínios começaram a ser construídos na região, aumentando significativamente o número de moradores. Algo que se tornou ainda mais latente com a construção da Arena, iniciada em 2009 e finalizada em 2012.
Quem também viu o crescimento do bairro e da Arena foi o comerciante Tadeu Mendes, 51 anos. Morador da região há 50 anos, ele tem um bar na rua Leopoldo Brentano, que assim como o de Dora também fica aberto durante a semana, mesmo sem jogos do Grêmio.
— Em jogos normais, trabalhamos em duas pessoas. Na quinta, vou chamar mais umas 10, entre atendentes, seguranças e o pessoal que me ajuda com a limpeza. Aqui, em jogos grandes, passam cerca de 1000, 1.500 pessoas. É uma correria. Às vezes até ocorrem umas brigas — conta Tadeu.
São justamente essas confusões que preocupam outros moradores do bairro. É o exemplo de Catarina Rosa, 63 anos, que vive no Humaitá há 25. A dona de casa conta que inúmeras vezes já teve de separar brigas na frente da sua casa e afirma que alguns torcedores são mal-educados.
— Prefiro quando são jogos menores. Nesses maiores, o pessoal briga muito e também acaba urinando na frente da minha casa. Era melhor quando o Grêmio não jogava aqui — reclama.